As barreiras sociais da comunidade Surda

Citação de Amílcar Morais: "As barreiras sociais da comunidade Surda"

A principal barreira social vivenciada diariamente pelas pessoas surdas é a da comunicação e da informação. No caso dos Surdos de nascença, a sua língua mais natural para se exprimirem e de acesso à informação e ao conhecimento do mundo que os rodeia é a Língua Gestual, nomeadamente a Língua Gestual Portuguesa. Os Surdos de nascença são outro caso. Não são pessoas com deficiência: nasceram com uma condição de Surdez sob ponto de vista médico.

A Língua Gestual é, tanto para os Surdos, como para as pessoas com deficiência auditiva e ouvintes, uma oportunidade de descoberta de novas liberdades e capacidades na vida. No entanto, desde o seu nascimento que as pessoas Surdas experienciam contextos de isolamento social e cultural, à mistura com sentimentos de revolta pela impotência gerada por situações de não comunicação. A definição de deficiência auditiva diz respeito a um défice adquirido, ou seja, quando se nasce com uma audição perfeita e, devido a lesões ou doenças, vai-se perdendo audição. As pessoas que já tinham aprendido a comunicar oralmente, usam aparelhos auditivos ou intervenções cirurgicas (dependendo do grau da deficiência auditiva) como forma de minimizar ou corrigir o problema. A medicina tem investigado, desde há muitos anos, na perspetiva de ver a Comunidade Surda como uma minoria em extinção, a surdez como uma doença curável, de forma a normalizar a sociedade e acabar com esta língua estranha – a Língua Gestual. Este trabalho da observação aposta na esperança da área das ciências sociais poderem dar uma forte contribuição para produzir uma resposta clara às perspetivas nocivas e preconceituosas dominantes na medicina relativamente à surdez.

Por outro lado, a Cultura Surda, que é possível e necessária desenvolver em torno da Língua Gestual, veio constituir-se como símbolo de luta da Comunidade Surda. Esta reivindica o reconhecimento da exigência da articulação entre Língua Gestual e Cultura Surda, em vez da sua repressão. Ao tomarem a Cultura Surda como centro de um campo de pesquisas académicas, as ciências sociais podem ser uma contribuição para dar a conhecer a situação e melhorar as oportunidades de realização de mais justiça social. A construção da Cultura Surda é o discurso da Comunidade Surda: a ideologia da Surdidade!

O desenho do Decreto-lei 54/2018, de 6 de julho, não defendeu a Cultura Surda e a identidade da Comunidade Surda porque seguiu uma filosofia manipuladora para integrar as escolas onde não há fluência em Língua Gestual Portuguesa. Brevemente, serão um neocolonialismo de opressão do espírito da Comunidade Surda e da luta da Surdidade que combate por maior visibilidade, e tornar-se-ão aliadas da comunidade em geral que favorece aquela ideologia.

Amílcar Morais


Nativo em Língua Gestual Portuguesa, Amílcar Morais é Mestre em Sociologia no ISCTE e professor especialista em Línguas e Literaturas Modernas – Língua Gestual Portuguesa. É professor de Língua Gestual Portuguesa do Centro Educação e Desenvolvimento Jacob Rodrigues Pereira e da Casa Pia de Lisboa e professor Adjunto convidado da Escola Superior de Educação de Coimbra. É investigador integrado do Núcleo de Investigação em Educação Formação e Intervenção da Escola Superior de Educação de Coimbra e estudante de Doutoramento em Linguística na Universidade de Évora. É autor do livro “Surdidade: Construção Social para a Comunidade Surda”.


Amplificador

Há quatro décadas, Judith Heumann (1947-2023) ajudou a liderar um protesto único chamado “sit-in” da Secção 504 – no qual ativistas com deficiência ocuparam um edifício federal durante quase um mês, exigindo maior acessibilidade para todos. Nesta conversa pessoal e inspiradora, recordamos Judy Heumann que conta as histórias de bastidores desta manifestação – e lembra-nos que, 40 anos depois, ainda há trabalho a fazer.

Clipping

Washington Post: Quando Prince deu um concerto de entrada livre para estudantes surdos

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Prince estava no seu auge quando chegou a Washington no outono de 1984. “Purple Rain” foi um dos maiores álbuns e filmes do ano, e deu sete concertos espantosos no Landover’s Capital Centre – todos esgotados. Mas, antes de partir, parou na Universidade Gallaudet de Washington, uma faculdade privada para surdos.
“God made you. God made me. He made us all equally”, cantou.

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