A acessibilidade não é um bicho de sete cabeças

Citação de Filipa Nascimento: "A acessibilidade não é um bicho de sete cabeças"

Quando uma empresa decide averiguar o que envolve tornar-se mais acessível, rapidamente se depara, na maior parte dos casos, com as suas “gigantescas lacunas”. Isto claro, se a sua intenção for de o fazer de forma séria e responsável.

Esta tomada de consciência pode ser muito angustiante para os decisores, acreditem. Parece que está “quase tudo por fazer” e que “fazer bem feito” será humana e financeiramente impossível.

Para que esta ideia não nos paralise é preciso ter: humildade para ouvir quem de facto percebe do assunto, capacidade de planeamento para identificar as quick wins e definir prioridades que transportem esses projetos para a esfera do “possível” e coragem para implementar medidas que muitas vezes impactam varias áreas da empresa, da financeira, à logística passando pela segurança.

Enquanto diretora de Marketing da Altice Arena, calhou-me a responsabilidade (partilhada, felizmente) de liderar um profundo processo de transformação da empresa no que à acessibilidade diz respeito.

Pude (sorte a minha) contar com o apoio da Access Lab desde o primeiro dia. Apoio sem o qual muito provavelmente o projeto não teria passado da sua intenção. Quando a montanha pareceu insuperável, foram eles que “desmontaram cada obstáculo” com a tranquilidade que só quem sabe mesmo do assunto consegue transmitir. Ou não fosse esta equipa especialista em ultrapassar obstáculos…

O projeto foi ganhando forma e tração, mobilizando as equipas internas e a opinião pública. De vitória em vitória, de ajuste em ajuste, de experiência em experiência, a acessibilidade é hoje “core” para a Altice Arena.

Ao longo da minha vida profissional raros foram os projetos em que estive envolvida, em que o retorno fosse tão imediato quer ao nível do “goodwill” da marca, quer ao nível da mobilização das varias áreas da empresa, quer também (e sobretudo) ao nível pessoal.

Acreditem. Por mais pequena que nos pareça cada melhoria, faz toda a diferença na vida de muitas pessoas e a maior das diferenças na nossa própria vida. E olhem que não é nenhum bicho de sete cabeças.

Filipa Nascimento


Licenciada em Comunicação Social no ISCSP, Filipa Nascimento trabalhou em comunicação em vários setores e com vários papéis. Desde copy estagiária numa agência de publicidade, a account noutra. Dedicou depois 16 anos da sua vida ao setor das telecomunições, onde foi diretora de Marketing da TMN. A essa viagem somou outra, de quase 10 anos, como diretora de Marketing da Altice Arena e MEO Blueticket. Assumiu recentemente a função de diretora de Marca e Comunicação nos CTT.


Amplificador

Espectáculo de Rihanna no intervalo do Super Bowl LVII 2023, com interpretação em língua gestual pela intérprete Surda Justina Miles.

Clipping

Diário de Notícias: A calçada portuguesa é acessível?! E constitucional?!

Ler artigo de opinião de Cristina Siza Vieira
“Perguntemos se os cidadãos com deficiência, ou com mobilidade condicionada temporária ou definitiva, circulam mais e melhor.”


Agenda

Eventos com acessibilidade física, legendagem, Língua Gestual Portuguesa e Audiodescrição. 

Teatro Teatro Municipal do Porto | Cosi run tutti
2 a 4 de Março, Porto

Destaque: Era para ser uma ópera contemporânea, o cruzamento das estéticas e linguagens do teatro da Palmilha Dentada e da Interferência a que, ainda por cima, se acrescentava a riqueza e a modernidade dos meios audiovisuais, numa linguagem que não chegando a ser kitsch, era garante de uma modernidade oportuna. Infelizmente a coisa correu mal. Não é fácil o cruzamento entre o humor da Palmilha e a erudição da música contemporânea da Interferência. Nem os músicos representavam, nem os atores tinham ritmo e principalmente ninguém cantava, coisa que, apesar de todas as estéticas modernas, continua a ser fundamental na montagem de uma ópera, mesmo que contemporânea, mesmo que com meios audiovisuais, mesmo que quase kitsch. Mas, apesar de tudo, o resultado final tem música, humor e cantoria. Já o Mozart está inocente de toda esta confusão. — Palmilha Dentada.

+ info: Teatro Municipal Porto

Acessibilidade: Língua Gestual Portuguesa


Teatro Municipal São Luiz | Porque é Infinito 
3 a 5 de Março, Lisboa

Destaque:  “Eu sei tudo sobre o amor, a sério.” Uma criação de Victor Hugo Pontes que vira do avesso um clássico da literatura, para lhe vermos bem as costuras. Partindo de Romeu e Julieta, de Shakespeare, Victor Hugo Pontes edifica, na sua singular linguagem coreográfica, um trabalho onde o movimento se enlaça à palavra. Com texto original de Joana Craveiro, a adolescência (contemporânea, não isabelina) é colocada em pano de fundo, porque é aí que tudo acontece pela primeira vez. Conduzidos por uma pesquisa documental e afetiva, entramos nos quartos dos que se iniciam na ideia do “amor para sempre”, um tempo de excessos e madrugadas longas. Entramos ainda no caleidoscópico universo de um coreógrafo que não se esquiva a mais um exercício criativo assente num clássico (tal como fez com Tchékhov e Pirandello), nem a mais uma incursão pelas experiências de vida de quem com ele construiu este espetáculo (tal como Margem ou Meio no Meio). Porque é infinito constitui, por fim, uma reflexão sobre a linguagem que usamos para definir um verbo – amar – tão difícil de conjugar. “Amor? Isso é exatamente o quê?”

+ info: São Luiz Teatro Municipal

Acessibilidade: Evento com interpretação em Língua Gestual Portuguesa (5 de Março, 17h30).


Mais sugestões em www.cultura-acessivel.pt

Scroll to Top
Scroll to Top
Skip to content