O turismo acessível como motor da economia

Citação de Sofia Martins: "O turismo acessível como motor da economia"

Todos nós conhecemos a importância de desligar da rotina e de sair da nossa zona de conforto.
Passar uns dias longe de tudo, conhecer outras realidades ou dedicarmo-nos apenas a não fazer nada, dá-nos alento para continuar, desperta-nos a curiosidade e, até mesmo, desenvolve-nos a criatividade tão necessária para o nosso dia a dia e para o nosso crescimento enquanto pessoas e enquanto sociedade.
Viajar traz benefícios a todos.

Viajar, para uma pessoa com mobilidade reduzida, especialmente para quem está numa cadeira de rodas, como eu, é um verdadeiro desafio! Se já não é fácil lidar com os obstáculos do dia a dia, que já sabemos quais são e onde estão, o facto de sair para o desconhecido torna tudo mais complicado. No entanto, há que ter em mente que normalmente o fazemos em férias, logo temos mais tempo, estamos mais descontraídos e não temos horários para cumprir podendo, por isso, ser mais flexíveis.

O desafio começa muito antes de partirmos com o planeamento da viagem, sendo que este é fundamental para o seu sucesso. Escolher o destino dá-nos, à partida, uma ideia daquilo que vamos encontrar e, se não queremos grandes surpresas, o melhor é escolher uma cidade europeia que não vai fugir muito àquilo a que estamos habituados. Arranjar alojamento acessível e tratar dos transportes é talvez o mais difícil, mas, se nos dedicarmos e o conseguirmos, a probabilidade de que vai correr tudo bem é grande, já que o resto são obstáculos como os que passamos nas nossas cidades, no nosso país.

Enquanto viajante considero que cada vez que volto de uma viagem, volto diferente, e consigo ver os benefícios que são enormes. Viajar para mim é pôr-me à prova, é superar-me e é, também, libertar-me, pois, mesmo quando as viagens não correm como planeado, deixam-me uma sensação de superação e de vitória, que me agrada, e que me faz querer repetir.

Os números falam por si. Segundo dados da organização Mundial do Turismo, só a Europa representa um mercado de 90 milhões de turistas com necessidades específicas de mobilidade.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 16% da população mundial tem alguma deficiência ou incapacidade e, se a estes números juntarmos a previsão, das Nações Unidas, de que 16% da população terá mais de 65 anos em 2050, encontramos aqui uma oportunidade de negócio a explorar.

O evoluir da ciência e o consequente aumento da esperança e qualidade de vida das pessoas faz com que, na reforma, muitas se dediquem a viajar. Trata-se de um mercado que gera receitas fora da época alta, pois são viajantes de todo o ano que procuram destinos de clima ameno (como Portugal) e estadias mais prolongadas. As suas condições físicas implicam uma dependência de serviços como transportes, cuidados de saúde, entre outros, gerando, assim, mais receitas.
Verifica-se que estes números, no mínimo, duplicam quando constatamos que uma pessoa com deficiência viaja, normalmente, acompanhada. Esta é uma realidade que observo nas minhas viagens.

Consigo perceber que, apesar de muitos espaços estarem adaptados e de terem feito um investimento nesta área, uns por obrigação, outros por questões de responsabilidade social, ainda não os conseguem explorar e rentabilizar como um serviço que é necessário a um nicho de mercado que quer usufruir dele, exigindo qualidade e pagando como qualquer outro cliente. Continua, sim, a ser encarado como um favor à pessoa com deficiência ou, pior, como uma obrigação do Estado ou da própria sociedade.

Esta é uma realidade que urge mudar.
As acessibilidades são para todos e servem todos, mesmo àqueles que acham que não precisam delas. Como já referi, o turismo acessível deve ser encarado como uma oportunidade de negócio, havendo ainda muito por onde evoluir já que estamos longe de encontrar uma oferta que responda, efetivamente, a todas as necessidades.

Sofia Martins

Formada em Engenharia Informática, Sofia Martins trabalha em Sistemas de Informação Geográfica. O seu passatempo preferido é viajar. Aos 23 anos, num acidente de viação, ficou paraplégica e a sua vida mudou radicalmente. A dificuldade que sente nas suas viagens, o facto de ter de gastar mais dinheiro para o conseguir fazer, o não poder ir a alguns destinos pouco acessíveis, fizeram com que criasse o Blog JustGo by Sofia com o objetivo de partilhar as suas experiências pelo mundo e incentivar outras pessoas a fazê-lo também, mas, acima de tudo, procura despertar consciências para a questão das acessibilidades e influenciar a que mais locais se tornem acessíveis.


Amplificador


A Decathlon do Canadá celebra o desporto praticado por pessoas com deficiência física com nova sinalética. 

Descodificador

Devemos dizer necessidades especiais ou necessidades específicas? 

Necessidades específicas a expressão mais adequada para nos referirmos às necessidades que grupos diversificados podem ter. Ao contrário de especiais, que tem implícito um tratamento “especial”. Falando em necessidades específicas, estamos mais alinhados com a vontade da comunidade e a contemplar a diversidade.  


Agenda

Eventos com acessibilidade física, legendagem, Língua Gestual Portuguesa e Audiodescrição. 


Rei Édipo (Silly Season) | Centro Cultural de Belém
17 a 19 de Fevereiro, Lisboa

Destaque: Rei Édipo, dos SillySeason, parte do «cânone ocidental» do mito edipiano de Sófocles para os dias de hoje. Trata-se de uma reinterpretação e reescrita do tempo presente, através da exploração de vários estágios de reconhecimento e do pathos ético que o acompanha.
Segundo Harold Bloom, Édipo poderá ter um complexo de Hamlet, patologia que o leva a «pensar não demasiado, mas demasiado bem». Em Rei Édipo, dos SillySeason, o mito surge, enquanto símbolo do julgamento impossível, imerso em retóricas distorcidas, futurologia, demagogia e misticismo, sem capacidade para reconhecer a verdade dos fatos. 

+ info: Centro Cultural de Belém

Acessibilidade: Língua Gestual Portuguesa  (19 de Fevereiro, 16h00).

Nota: Pelas 15h, numa visita à obra Oedipus and the Sphinx after Ingres, de Francis Bacon (1909–1992), no Museu de Arte Contemporânea,  o CCB dará a conhecer a forma como este artista reinterpreta e reflete sobre o momento em que Édipo se encontra com a Esfinge à porta de Tebas. Nesta visita guiada teremos interpretação de Língua Gestual Portuguesa.
Inscrições: servico.educativo.museu@ccb.pt (até às 13h de 17 de Fevereiro).
 


AMPLA – Mostra de Cinema | Culturgest    
3 a 5 de Março, Lisboa

Destaque: Nesta 2ª edição, a mostra regressa no início de Março com os melhores filmes dos melhores festivais nacionais, apresentando uma seleção de filmes premiados em 2022 nos principais festivais. É uma oportunidade única para ver o melhor cinema português e mundial, entre curtas e longas-metragens, esde documentários a filmes de terror, sem esquecer as sessões dirigidas ao público mais novo. Este ano a AMPLA abre também a sua programação às escolas. A AMPLA tem uma programação totalmente inclusiva. 

+ info: AMPLA

Acessibilidade: Todos os filmes de todas as sessões dispõem de audiodescrição, legendas descritivas, interpretação em Língua Gestual Portuguesa, acessibilidade no espaço físico e sessões descontraídas.

Acessibilidade: Sessões com audiodescrição e Língua Gestual Portuguesa. 


Mais sugestões em www.cultura-acessivel.pt

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