A promoção do acesso universal e equitativo à fruição cultural encontra-se na génese e na missão da EGEAC e constitui uma prioridade dos equipamentos culturais sob a sua gestão direta, sendo, a acessibilidade, um dos eixos estratégicos que norteiam a sua atividade.
Ao longo dos anos, temos procurado intervir, através de planos estratégicos, nos museus, teatros, galerias, cinema e monumentos, de forma a torná-los mais acessíveis a todos os visitantes, isto, apesar dos desafios que os edifícios, alguns centenários, apresentam. Paralelamente, desenvolvemos atividades e projetos de continuidade que atentam às necessidades específicas de determinados públicos e realizamos, contínua e regularmente, visitas guiadas, conferências ou sessões performativas com audiodescrição, com interpretação em Língua Gestual Portuguesa e sessões descontraídas. Procuramos, ainda, utilizar uma linguagem acessível na nossa comunicação, bem como formas de comunicação aumentativa e alternativa.
Algumas medidas, pela sua natureza, têm processos de implementação mais demorados e desafiantes. Mas existem outras, de aplicação mais ágil, que têm um impacto imediato na vida das pessoas.
É o caso do bilhete gratuito para acompanhante da pessoa com deficiência, tema que esteve recentemente na ordem do dia devido à isenção de IVA, nesta tipologia de bilhetes, prevista no Orçamento de Estado para 2024. Uma medida importante, sem dúvida, mas que entendemos insuficiente. A legislação, em vigor, deveria ser revista de forma a tornar claro e obrigatório o acesso a bilhete gratuito ao assistente pessoal ou ao acompanhante, no apoio a atividades de cultura e lazer, da pessoa com deficiência. Obrigar uma pessoa com deficiência a adquirir dois bilhetes, para si e para quem a acompanha – uma vez que não se pode deslocar, nem usufruir sem assistência, a atividades culturais – constitui, do nosso ponto de vista, uma clara discriminação indireta da pessoa com deficiência, nos termos do artigo 3.º, alínea b) da Lei n.º 46/2006, de 28 de agosto.
O bilhete gratuito para assistente pessoal ou acompanhante da pessoa com deficiência é uma realidade consolidada nos Museus, Monumentos, Cinemas e Teatros sob gestão direta da EGEAC.
As questões que se levantaram no início da implementação desta política, rapidamente foram analisadas e desconstruídas. Primeiro, vemos o bilhete gratuito para o acompanhante da pessoa com deficiência como um investimento e não como um custo. Um investimento no acesso à Cultura de pessoas que, de outra forma, teriam de pagar dois bilhetes para ir a um museu, a um espetáculo ou visitar um monumento, isto porque não o podem realizar autonomamente, tendo de recorrer ao apoio de um acompanhante ou assistente pessoal. Acresce o facto de que ao verificar-se o pagamento de dois ingressos, esta dificuldade poder constituir, talvez, mais um efeito limitador da fruição cultural por parte dos cidadãos em questão.
Em segundo lugar, entendemos que o risco, de outras pessoas poderem usufruir deste bilhete, de forma indevida, é mínimo, uma vez que existem mecanismos que permitem o controlo de entradas. E, definitivamente, tal possibilidade não deve excluir o acesso de pessoas a quem este tipo de bilhete se destina.
Em terceiro, ao argumento de que a pessoa acompanhante irá, também, usufruir do espetáculo, da exposição, do monumento, respondemos que o assistente estará em primeiro lugar a trabalhar e se, durante este período de atividade solidária lhe for possível usufruir de um momento cultural, tanto melhor.
A EGEAC, através do seu Conselho de Administração – do qual fazem parte, igualmente, Susana Graça e Manuel Falcão – está ciente de que a promoção desta medida é crucial, tendo um impacto efetivo na vida das pessoas, e acredita, pelo papel de motor cultural que desempenha na Cidade, poder incentivar outros promotores e instituições culturais a implementar o bilhete gratuito para acompanhantes das pessoas com deficiência.
Pedro Moreira
Pedro Moreira, presidente do Conselho de Administração da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), é licenciado em História, com especialização em Paleografia e Diplomática, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Desempenhou funções na Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses/Presidência do Conselho de Ministros; foi Diretor de Desenvolvimento e Gestão Cultural da EGEAC; Diretor de Marketing e Visitor Attractions na Lismarketing/Turismo de Lisboa; e Diretor de Operações do Museu do Tesouro Real/Palácio Nacional da Ajuda – Turismo de Lisboa.
Amplificador
Clipping
Inclusão de pessoas com deficiência nas organizações gera mais receita e lucro
As organizações que lideram a inclusão de pessoas com deficiência geram mais receita e lucro, de acordo com um novo relatório da Accenture em parceria com a Disability:IN e a Associação Americana de Pessoas com Deficiência (AAPD).
Agenda
Eventos com acessibilidade física, legendagem, Língua Gestual Portuguesa e Audiodescrição.
Culturgest | Fantasma Gaiata – A Coleção da CGD
Até 28 de janeiro, Lisboa
Destaque: A propósito da celebração do trigésimo aniversário da Culturgest, portas abertas à galerias para que o público possa novamente contactar com este acervo com mais de 1800 peças. Visitas à exposição “Fantasma Gaiata – A Coleção da CGD” com interpretação em Língua Gestual Portuguesa, Audiodescrição com touch tour e materiais em alto relevo.
+ info: Culturgest
Acessibilidade:
– Sessões com audiodescrição a13/01.
– Visitas com Língua Gestual Portuguesa a 20/01.
Mais sessões disponíveis mediante marcação.
A entrada é gratuita para pessoas com deficiência e acompanhante. O agendamento para qualquer uma das visitas deve ser realizado através do e-mail culturgest.visitas@cgd.
Teatro Municipal São Luiz | À Procura de Chaplin
24 a 28 de janeiro
Destaque:
À Procura de Chaplin é o terceiro espetáculo de uma trilogia que começou com Se Eu Fosse Nina, um cruzamento da personagem Nina, de A Gaivota, de Tchékov, com a biografia de Rita Calçada Bastos, a que se seguiu Eu Sou Clarice, um objeto teatral a partir da vida e obra da escritora Clarice Lispector, onde a encenadora se espelha integralmente. Em À Procura de Chaplin propõe-se explorar um lado trágico-cómico da existência. Revisitando o universo clown e o imaginário circense, que sustenta a capacidade de rir de nós mesmos, surgiu a necessidade de criar um espetáculo em que a palavra não é o principal veículo de comunicação e em que são desnudadas as fragilidades da vida de uma forma livre e solar.
+ info: São Luiz
Acessibilidade: Língua Gestual Portuguesa na sessão de 28 de janeiro, 17h30.