Entrar num ginásio deveria ser um passo natural para quem quer cuidar do corpo e da mente. Mas, para uma pessoa cega, esse simples ato pode ser um grande desafio. Em Portugal, a maioria dos ginásios ainda não está preparada para nos receber. Os equipamentos não são acessíveis, os profissionais de desporto têm dificuldade em lidar com a deficiência e, muitas vezes, falta até sensibilidade para nos incluir verdadeiramente no espaço.
Quando fiquei cega, aos 36 anos, decidi regressar ao ginásio. O que encontrei não foi apenas a falta de acessibilidade, deparei-me com uma realidade desoladora: o balneário destinado a pessoas com deficiência era, na verdade, uma arrecadação cheia de materiais de limpeza. Além disso, os funcionários não estavam sensibilizados para a minha realidade.
A verdade é que pequenas mudanças podem fazer toda a diferença. Formações específicas para os técnicos, comunicação mais clara e adaptações simples nos equipamentos, como marcações em silicone nos botões táteis ou descrições precisas durante as aulas, são passos
fundamentais. Coisas aparentemente óbvias, como garantir que uma pessoa cega fique na frente numa aula de cycling para ouvir melhor o instrutor, ainda passam despercebidas.
Foi por acreditar que o desporto é para todos que nasceu o projeto Sexto Sentido, uma equipa de marcha e corrida guiada para pessoas cegas e com baixa visão que promove a inclusão através do desporto. Um projeto que começou com 10 pessoas no Porto e hoje já envolve mais de 300 participantes, entre atletas cegos ou com baixa visão e guias voluntários. Temos núcleos ativos em Braga, Porto, Coimbra e Lisboa, e a cada treino percebemos que estamos a quebrar barreiras e mudar mentalidades. Mais do que correr, queremos inspirar. Queremos que as pessoas entendam que a cegueira não nos define.
A relação entre um atleta cego e o seu guia vai além do desporto – é uma troca genuína de experiências. E para que essa inclusão aconteça de forma natural, criámos o Guiar com Sentido, uma formação que ensina como guiar uma pessoa cega em diferentes contextos – seja no desporto, no trabalho ou até no dia a dia. Esta formação aborda comunicação eficaz, técnicas de guia e a interação correta com um cão guia.
No Sexto Sentido Portugal, acreditamos que inclusão não é um favor – é um direito. O desporto tem o poder de unir, transformar e derrubar preconceitos. E na corrida, assim como na vida, ninguém fica para trás!
Bárbara Pereira
Bárbara Pereira, cega aos 36 anos, começou uma nova jornada após a perda da visão. Criou e coordena projetos como o “Sexto Sentido” e o “Além do Horizonte”.
É também consultora e oradora na área da deficiência, inclusão e acessibilidade.
Megafone
“As Mães dos Pinguins”, série em streaming na Netflix, acompanha a lutadora de MMA Kamila Barska, que luta para equilibrar a sua carreira com a educação do seu filho autista, Jaś. Quando Jaś é expulso da escola devido a problemas de comportamento, um psicólogo sugere-lhe que frequente uma escola para alunos com necessidades específicas.
A série centra-se na jornada de Kamila para lidar com o diagnóstico do filho e encontrar apoio entre os outros pais. É um retrato comovente de uma mãe que navega pelas expectativas sociais e pelas exigências de criar um filho neurodivergente, mostrando tanto as lutas como as ligações inesperadas que surgem ao longo do caminho.
Série disponível com audiodescrição em português do Brasil e legendagem.
Clipping
Professor cria sistema de navegação inovador para pessoas com deficiência visual
Artigo – Pplware
A mobilidade autónoma representa um desafio significativo para pessoas com deficiência visual. Um novo sistema de navegação baseado em inteligência artificial (IA), desenvolvido na China, surge como uma promessa de maior independência e qualidade de vida.
Agenda
Eventos com acessibilidade física, legendagem, Língua Gestual Portuguesa e Audiodescrição.
Eventos acessíveis em abril | Lisboa
Abril, nos espaços culturais EGEAC, Lisboa
Destaque: A programação de abril dos espaços da EGEAC (Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural) inclui sessões para pessoas cegas ou com deficiência visual, para pessoas Surdas ou com deficiência auditiva, e para pessoas com deficiência intelectual. Teatro do Bairro Alto, Teatro São Luiz, Casa Fernando Pessoa, Museu de Lisboa, Galeria Avenida da Índia ou Teatro LU.CA, são alguns dos espaços.
+ informação: EGEAC
Acessibilidade: programação diversificada e acessível com Língua Gestual Portuguesa, audiodescrição ou legendagem.
Exposição “Resistência e Liberdade | Museu do Aljube
29 de março a 29 de novembro, Museu do Aljube, Lisboa
Destaque: Visita à exposição de longa duração do Museu do Aljube Resistência e Liberdade e às memórias da resistência à ditadura em Portugal, até ao 25 de Abril de 1974 e a conquista da liberdade.
+ informação: Museu do Aljube
Acessibilidade: Visitas guiadas em Língua Gestual Portuguesa.