Olá!
Já passaram três meses desde o Ano Novo e cá estou eu para mais um Ensaio.
Neste texto, trago uma leitura que me fez refletir sobre a identidade e o racismo estrutural, uma série da Netflix que devorei numa noite, um espetáculo de dança que quero muito ver, e a minha nova paixão: correr (sim, eu, que sempre fugi de correr!).
Entre política, cultura e desporto, este ensaio é um retrato pessoal e atento destes tempos em que vivemos.
Mariana Bártolo
Sociedade & Política
Com o panorama geopolítico atual, não poderia deixar de trazer uma reflexão literária.
O último livro que li foi Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie, uma autora nigeriana. Este romance de setecentas páginas mergulha com sensibilidade e sentido de humor nas questões do racismo estrutural nos Estados Unidos da América, através de histórias de amor, deslocamento e identidade.
A autora fala-nos do sentido de comunidade entre pares, dos contrastes entre pessoas da mesma raça, mas de diferentes origens – neste caso, entre os EUA e a Nigéria – e das tensões, por vezes subtis, que se instalam no encontro entre os dois mundos.
É um lembrete de que a identidade não é apenas aquilo que sentimos, mas também aquilo que nos é devolvido – pelo olhar do outro, pelas instituições, pelo discurso político.
Estamos a viver tempos estranhos em que, na Europa e no mundo, as questões de identidade, imigração, pertença e discriminação voltam a ganhar força nos debates públicos, de forma cada vez mais tensa e polarizada.
Nos Estados Unidos, o contexto político tem demonstrado como, mesmo em democracias consolidadas, os direitos das minorias podem ser postos em causa de forma abrupta. A prova disso é que este livro é um dos mais de dez mil que foram recentemente banidos das escolas públicas norte-americanas.
Cultura
Uma série
A Netflix lançou recentemente uma série que está a dar muito que falar – Adolescência – composta por quatro episódios filmados num único take, sem cortes. Esta técnica cinematográfica traz-nos uma sensação de imersão total, quase claustrofóbica.
Esta série tem como ponto de partida um acontecimento: um adolescente é detido suspeito de assassinar uma rapariga. A partir daí, cada episódio explora temas complexos, como o impacto das redes sociais na vida dos adolescentes, a masculinidade tóxica, o papel da figura paterna, questões de saúde mental e as fragilidades invisíveis da adolescência.
Não vou dar spoilers!
Uma Dança
Para descontrair e esvaziar a mente, gosto muito de assistir a espetáculos de ballet e estou curiosa com o “We call it Ballet”, uma interpretação moderna, tecnológica e luminosa da Bela Adormecida, de Tchaikovsky.
Para pessoas com deficiência, o bilhete é gratuito para acompanhantes, mas é preciso enviar email com o atestado médico de incapacidade multiuso. O valor do bilhete varia de 19 a 40 euros.
O espetáculo acontece uma a duas vezes por mês e estará em cena de abril a junho, no Capitólio, em Lisboa. Os bilhetes esgotam depressa!
Desporto
Sempre fui exímia nos desportos aquáticos e uma nódoa nos que envolviam modalidades de atletismo ou bolas – nisto, a minha veia portuguesa falha redondamente. Sentindo a falta da prática de desporto, há uns meses comecei a correr porque sim e acabei por descobrir uma nova paixão, especialmente depois de ter corrido uma prova de dez quilómetros. Imediatamente após a prova, inscrevi-me para a meia maratona na ponte de Vasco da Gama, no dia 26 de outubro.
De acordo com o regulamento do Clube de Maratona de Lisboa, as pessoas com deficiência podem participar nesta prova, desde que – no caso das com mobilidade condicionada – possam correr de forma autónoma e sem necessidade de utilização de cadeira de rodas, e as pessoas cegas têm direito de participar na prova com um guia, mediante apresentação de atestado médico de incapacidade multiuso com incapacidade igual ou superior a 60%.
Na maratona de Lisboa, de 42 quilómetros, que acontece no dia anterior, existe um limite máximo de cinco vagas para pessoas com cadeiras de rodas, que podem participar, desde que empurradas por terceiros por si designadas.
Quem se junta a mim nesta loucura?
Sobre a autora: Nascida em Setúbal e criada em Lisboa, no seio de uma família de músicos e médicos, Mariana Couto Bártolo é Surda profunda e orgulhosamente nativa em Língua Gestual Portuguesa. Médica inscrita na Ordem dos Médicos desde 2021, tem vindo a desenvolver várias formações de sensibilização para profissionais de saúde e capacitação de intérpretes de Língua Gestual Portuguesa para o atendimento e comunicação com as Pessoas Surdas no contexto de saúde. Recentemente, criou a página de instagram @uma.medica.surda onde partilha o seu dia-a-dia, naquilo que considera ser uma vida perfeitamente normal e feliz, como forma subtil de eliminar o capacitismo e o preconceito em relação às Pessoas Surdas e não só. |
![]() Esta newsletter foi escrita a assistir à série:
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