Nós, Surdos, quer queiramos, quer não, a música sempre fez parte de nós.

O facto de vivermos numa sociedade em que a música faz parte da vida das pessoas, indiretamente, a música também faz parte de nós.

Começamos logo quando somos bebés quando os pais não sabem que os seu filho é surdo e cantam músicas de embalar.

Nos aniversários, quando temos de cantar os parabéns. Na adolescência, quando começamos a ir a discotecas.

Na escola, quando temos disciplina de música ou temos de participar nas suas festas que incluem música.

No ginásio, onde determinada modalidade inclui música.

Por mais que queiramos fugir, a música estará sempre presente. No entanto, é um “fantasma” nas nossas vidas porque não a ouvimos, não a vemos ou não a entendemos.

Só recentemente temos a oportunidade de ter acesso à música pelas mãos do Coro Mãos que Cantam, do qual eu própria faço parte. Mais do que ver, crio e sinto-a nas minhas mãos.

Em 13 anos de existência do projeto, mostramos que os Surdos podem fazer música, e qualquer tipo de música. Como o fado.

Nós, Surdos portugueses, somos uma comunidade com dupla cultura, cultura Surda e cultura portuguesa. Fazia todo o sentido a participação deste projeto com o fado tão português.

Mostramos que podemos fazer qualquer música, mostramos aos Surdos de fora a nossa cultura e mostramos a toda a sociedade ouvinte outra forma de música outra forma de arte e não só.

O projeto Mãos que Cantam dá também a conhecer a comunidade Surda e a nossa língua, a Língua Gestual Portuguesa, dá também esperança às pessoas Surdas que sempre sonharam fazer parte da música e ainda dá outra perspetiva aos professores de música que se deparam com alunos Surdos.

É um projeto que começou estranho mas que hoje se entranha no coração de todos.

Patrícia Carmo

Uma das coralistas do Coro Mãos que Cantam, Patrícia Carmo tem Formação de Formadores de Língua Gestual Portuguesa pela Associação Portuguesa de Surdos (2000),  Licenciatura em Reabilitação e Inserção Social pelo ISPA (2004),  Mestrado em Língua Gestual Portuguesa e Educação de Crianças Surdas pela UCP (2010) e outra Licenciatura em Língua Gestual Portuguesa pela UCP onde recebeu um Prémio de Mérito pelo desempenho académico (2013).

Foi assistente na Universidade Católica Portuguesa onde desenvolveu vários projectos de investigação na área da linguística das línguas gestuais. É autora e coautora de vários artigos científicos e oradora em conferências nacionais e internacionais. Em 2013 envolveu-se no projeto “Sem barreiras” que decorreu durante 2 anos em São Tomé e Príncipe onde recolheu cerca de 100 crianças e jovens Surdos e assistiu ao nascimento de uma nova língua gestual, surgindo desta forma o dicionário de Língua Gestual de São Tomé e Príncipe, onde é autora principal. Trabalha com crianças e jovens Surdos e dá formações a ouvintes desde 2004 até à atualidade.

Agenda

Eventos com acessibilidade física, legendagem, Língua Gestual Portuguesa e Audiodescrição. 

Amplificador

Clipping

Eles são surdos e cantam o fado com Língua Gestual Portuguesa 
 

Ler artigo: A Mensagem

O projeto Gesto do Fado regista para a eternidade fados interpretados pelo coro Mãos que Cantam, composto por pessoas surdas, que usam a sua língua como expressão artística.

Para Catarina, ter uma assistente pessoal é ter uma vida digna: “Uma Revolução”