A dez dias do início do Mundial de Futebol no Qatar os números divulgados impressionam:
- 8 estádios
- 3 milhões de bilhetes vendidos
- 32 equipas e 64 jogos
- 188,136 acreditações
- 12,300+pessoal ligadas ao media
- 20,000 voluntários
- 90+ ativações temáticas
A partir de dia 20 de novembro, e durante 28 dias, o mundo inteiro ver-se-á reunido no pequeno Emirato de 11,571Km2, habitado por cerca de 2.8 milhões.
Os preparativos iniciados há 12 anos intensificam-se, e toma-se consciência da responsabilidade de organizar um evento de tal magnitude.
As equipas diretamente envolvidas na coordenação e logística de massas e na dinamização de eventos desdobram-se em cuidados para que o evento ofereça segurança e conforto a quantos venham a participar enquanto atleta, profissional, ou espetador. E em todas as reuniões de trabalho surge o tema da ‘diversidade humana’.
Se há poucos meses se mencionavam ‘grupos de risco’ em voz sussurada, neste momento, um grupo ‘saiu do armário’ para se tornar o centro de mil atenções e desvelos. Nunca, neste país, se falou mais e de forma tão positiva de pessoas com deficiência e de acessibilidade!
Mas, afinal, o que significa isto? Mera manobra publicitária ou vontade de fazer a diferença? Chamar-lhe-ia surfar a onda por uma causa justa e de difícil tração.
Por imposição externa, por orgulho nacional, por vontade real de mudança, qualquer que seja a razão… este é um momento de viragem num país, ou numa região, em que a deficiência é invisível ou tabú e, portanto, facilmente esquecida.
Como se transforma um momento em legado que perdure?
São muitas, embora pequenas e aparentemente insignificantes (perante os números acima), as ações em curso.
Todos os estádios foram construídos com condições de mobilidade e acesso. Mas não só de estádios se fazem mundiais! Só uma abordagem holística e integrada permitirá que qualquer pessoa possa experienciar um evento que se faz mais fora do que dentro do recinto desportivo. Transportes, hotelaria, entretenimento, serviços,… todo um país tem de se preparar para acolher a diferença. E o país tem se esforçado por se tornar mais acessível e inclusivo. A tarefa terá sido facilitada por ser um país em construção.
O aeroporto, o metro, a nova frota de autocarros, até os táxis são acessíveis.
Hotéis, centros comerciais, espaços públicos, dizem-se atentos ao acolhimento diferenciado.
Os eventos calendarizados vendem-se com condições de acesso.
Nos bastidores, o trabalho é real… cada programa (e são às centenas) ativa equipas de apoio sensibilizadas e empenhadas em bem receber.
Já recebi a minha acreditação oficial.
Nos últimos anos, ajudei a formar muitos dos que hoje prestam serviços diferenciados.
Nos últimos meses, apoiei quem quer fazer diferente.
Nas últimas semanas, dei formação a centenas de voluntários.
Daqui a dez dias, estarei a fazer audiodescrição ao vivo na cerimónia de abertura.
Grata e espectante, hoje repito baixinho… ‘Este será o mundial mais acessível de sempre’… que a mudança perdure!
Josélia Neves
Josélia Neves é doutorada em Estudos de Tradução e especializada em comunicação inclusiva. Presentemente lecciona na Hamad bin Khalifa University, no Catar. Fornece ainda consultoria a vários organismos públicos e privados, um pouco por todo o mundo, com vista à promoção de soluções inclusivas inovadoras nos mais variados domínios.
Amplificador
A Mother’s Love that went global Em 2019, o FIFA Fan Award, entregue no The Best FIFA Football Awards em Milão, foi para uma notável Mãe que foi reconhecida por fãs de todo o mundo por narrar os jogos de futebol ao seu filho que é cego e vive com autismo. |
Agenda
Eventos com acessibilidade física, legendagem, Língua Gestual Portuguesa e Audiodescrição.
Alkantara Festival 2022
De 11 a 27 de Novembro, Lisboa
Destaque: O Festival Alkantara define-se como um festival internacional de dança, teatro, performance e encontros que acontecem em várias salas e espaços de Lisboa (Teatro do Bairro, Culturgest, Centro Cultural de Belém, Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Municipal São Luiz, Espaço Alkantara).
+ info: Acessibilidade Alkantara Festival
Acessibilidade: Espetáculos em Língua Gestual Portuguesa, legendagem e audiodescrição.
São Luiz Teatro Municipal | Terreno Selvagem 2
Até 13 de Novembro, Lisboa
Destaque: Terreno Selvagem 2 é a segunda parte de um díptico inspirado nos primeiros 10 anos da filha de Pedro Gil e de Raquel Castro. Juntamente com Miguel Castro Caldas, inventaram uma personagem filha, uma personagem pai e uma personagem mãe. Na primeira parte (estreada em 2016), a filha com 5 anos brincava com os pais às encomendas e, em todas, a filha perdia os seus progenitores e ia parar a uma casa onde vivia um casal que a adotava. (…) O tempo foi passando, entretanto nasceu outra filha e o Terreno Selvagem continua.
+ info: São Luiz Teatro Municipal
Acessibilidade: Espetáculo em Língua Gestual Portuguesa e com audiodescrição.
Teatro Municipal do Porto | Rosas de Maio
11 a 13 de Novembro, Porto
Destaque: Rosas de Maio é uma criação rizomática de um processo de investigação sobre Novas Cartas Portuguesas (1972), obra escrita por Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta. Rosas de Maio parte desta obra seminal para tecer dramaturgicamente um conjunto de novos desdobramentos, criando um espetáculo híbrido e polissémico, que oscila entre o documental e a performance em vários tempos. É uma peça que coloca em movimento a própria materialidade do arquivo, que cruza e resgata palavras e ações de mulheres que ao longo da história tiveram os seus discursos censurados, rasgados e apagados pelo regime opressivo e patriarcal.
+ info e programa: Teatro Municipal do Porto
Acessibilidade: Língua Gestual Portuguesa.
Mais sugestões em www.cultura-acessivel.pt