Se és um fã da sétima arte, deve ter sido com agrado que recebeste a notícia do fim das restrições das salas cinema e com o fim das estreias dos filmes em streaming. Mas se és fã um da sétima arte com uma deficiência, o sentimento pode ter sido muito diferente.
Chamo-me Diogo, 31 anos, e como jornalista de cinema com deficiência, acredito que ir ao cinema deve ser uma experiência positiva para todos. Mas não é. Ir ao cinema como pessoa com deficiência é mais difícil do que a maioria das pessoas pensa, é o verdadeiro filme – entre o drama e a comédia, o desânimo e a humilhação, que vai desde o acesso limitado a salas, à escolha de lugares que, quando disponíveis, em muito se assemelham a pequenas jaulas de contenção. Se ao leres esta frase estás a pensar “que exagero”, façamos um exercício simples:
Combinas uma ida ao cinema com os teus amigos e um deles desloca-se em cadeira de rodas. Ao chegarem ao espaço, descobrem que tiveram a sorte – é esse o termo mais adequado – do filme que querem assistir estar a ser exibido numa sala com “lugares acessíveis”, mas há uma contrapartida: tu não te poderás sentar ao lado do teu amigo por falta de assento e ele nem sequer pode escolher o seu lugar, ficando à mercê do espaço, por vezes demasiado próximo ou distante do ecrã.
Agora, para reflexão: terá sido esta ida ao cinema uma experiência positiva para ambos? Irá este exemplo, infelizmente bastante comum, ao encontro da diversidade e inclusão que a indústria cinematográfica tanto proclama?
É certo que os grandes estúdios de Hollywood deram um passo importante na acessibilidade ao cinema enquanto arte ao manterem a estratégia de “estreia simultânea” em sala e streaming – uma ação que se traduz em a pessoa com deficiência não ter de aguardar três meses para ver um filme.
Não obstante, esta deve ser encarada com uma solução intermédia. É necessário repensar acessos e alterar arquiteturas. Tudo para que a ida ao cinema não seja um filme, mas sim uma experiência comunitária verdadeiramente inclusiva.
Diogo Marques
Formado em Ciências da Comunicação, o Diogo é um contador de histórias. Através da partilha da sua experiência quotidiana com a paralisia cerebral, tem como propósito sensibilizar e desmistificar estereotípicos em relação às pessoas com deficiência através detrês plataformas: corporativa (na GALP é responsável de Comunicação Interna dos RH), no digital (na página de instagram e imprensa escrita (na revista CRISTINA onde é responsável pelas secções de cinema e tecnologia).
Amplificador
9 to 5 with Heather Dowdy Enquanto filha de adultos Surdos, Heather Dowdy sabia que queria fazer algo que fizesse a diferença. Esta é a sua história. Como chegou a ser Directora de Acessibilidade de Produtos na Netflix, garantindo que milhões de membros em todo o mundo possam desfrutar plenamente dos filmes, espectáculos e jogos que adoram. |
Descodificador
O que é a audiodescrição? A audiodescrição é um recurso de acessibilidade. Trata-se de uma forma de narração utilizada para fornecer informações sobre elementos visuais chave. Ou seja, traduz imagens por palavras e é essencial para pessoas com deficiência visual, intelectual, dislexia e idosos. |
Agenda
Eventos com acessibilidade física, legendagem, Língua Gestual Portuguesa e Audiodescrição.
Teatro Nacional D. Maria II | Zoo Story
6 a 23 de Outubro, Lisboa
Destaque: A palavra dita é substituída pela palavra gestuada, através do desempenho de dois intérpretes surdos, cujo processo de casting se iniciou em Fevereiro de 2022 numa oficina teatral dirigida a intérpretes S/surdas/os, realizada no D. Maria II. Zoo Story é um encontro raro entre públicos que têm diferentes necessidades e expectativas e que reconhecerão na prática teatral o seu espaço de representatividade, afirmação e sentimento de pertença.
+ info: Teatro Nacional D. Maria II
Acessibilidade: Espectáculo em Língua Gestual Portuguesa, legendado em português e com audiodescrição, em todas as sessões.
Casa Fernando Pessoa | Encontro de Poesia S/surda
22 de Outubro, Lisboa
Destaque: Quando um autor S/surdo cria, qual é o seu processo? Quais as formas próprias de fazer literatura em Língua Gestual Portuguesa e em Português? Que particularidades tem a Poesia Surda? Neste encontro entre pessoas S/surdas e pessoas ouvintes, reúnem-se autores, professores, editores e tradutores, em conversa sobre processos de criação, declamação e publicação. Programa concebido por Patrícia Carmo, Sofia Figueiredo e Sandra Bragança, com a Casa Fernando Pessoa.
+ info e programa: Casa Fernando Pessoa
Acessibilidade: Língua Gestual Portuguesa e Português
Com legendagem presencial.
Mais sugestões em www.cultura-acessivel.pt