Transporte adaptado e habitação acessível: autonomia ou utopia?

Olá!

Estamos de volta com a 10.ª edição da newsletter da Access Lab! Já contamos com dez edições repletas de conteúdo que cruza temas como a acessibilidade, inclusão, cultura, política e, claro, a vida vista através das lentes da diversidade.

Esta edição é escrita por mim, Catarina, e falo-vos de algumas experiências e desafios mais pessoais, para além das habituais recomendações culturais e de algumas notícias que me fizeram refletir no último mês. A dificuldade (ou impossibilidade) de encontrar transportes adaptados, o desafio na compra de casa (spoiler: ainda sem final feliz!) e algumas recomendações culturais que me acompanharam em fases importantes da minha vida.

Preparados? Então vamos mergulhar nesta décima edição da Ensaio.

Espero que gostem.

Sociedade & Política

 

Transporte Adaptado: Autonomia ou Utopia?

Conheci a história do Rui Pedro nas redes sociais. O Rui desloca-se numa cadeira de rodas motorizada e enfrenta grandes dificuldades para aceder a transportes adaptados, públicos ou privados. Para combater esta realidade, lançou um projeto para criar uma empresa de carrinhas adaptadas a preços acessíveis, que podem conhecer aqui.

Para muitos, é impensável depender de um transporte que não existe ou é financeiramente inviável. Mas, no fundo, trata-se de algo básico: a liberdade de ir e vir, um direito ainda negado a muitas pessoas com deficiência.

Acessibilidade na Habitação

A minha procura por casa já dura há mais de um ano, e a maior dificuldade tem sido a acessibilidade física. Recentemente, conheci a história da Maria, uma pessoa cega que enfrentou grandes dificuldades para encontrar casa para arrendar. Embora os nossos obstáculos sejam diferentes, a raiz do problema é a mesma: a falta de acessibilidade, seja física ou atitudinal.

Cultura

 

O destaque de Cultura deste mês tem 3 sugestões:

Wicked: Parte Um, adaptação do famoso musical de Stephen Schwartz e Winnie Holzman, reimagina O Feiticeiro de Oz e destaca-se por um detalhe essencial: a personagem Nessarose, uma personagem com deficiência, interpretada por uma mulher com deficiência, Marissa Bode.

Contrasta com o habitual crip face, – a prática de atores sem deficiência interpretarem personagens com deficiência, muitas vezes, perpetuando estereótipos. A verdadeira representatividade desafia preconceitos e abre espaço para talentos diversos. É interessante ver essa inclusão refletida fora do cinema, com marcas como a LEGO a representarem fielmente a personagem nos brinquedos que comercializam.

Quando as pessoas com deficiência têm a oportunidade de contar as suas próprias histórias, todos ganhamos: as representações tornam-se mais reais, ricas e inclusivas.

Feliz Ano Velho, Marcelo Rubens Paiva: Li este livro durante a minha reabilitação no Centro de Reabilitação do Norte, após adquirir a minha deficiência motora. Publicado em 1982, Feliz Ano Velho é a autobiografia de Marcelo Rubens Paiva, que ficou tetraplégico após um acidente.

Com um tom leve e introspectivo, a obra aborda a sua adaptação à nova realidade e traz críticas sociais e políticas – Marcelo é filho de Rubens Paiva, deputado desaparecido na ditadura militar brasileira.

Com o recente lançamento do filme Ainda Estou Aqui (2024), que garantiu a Fernanda Torres um Globo de Ouro, é o momento ideal para revisitar esta obra. Este filme é uma adaptação do livro homónimo de Marcelo Rubens Paiva.

Está disponível em audiolivro.

Heróides é um clube do livro feminista dinamizado por Cassandra, uma estrutura artística dirigida por Sara Barros Leitão. Todos os meses, um convidado escolhe uma obra feminista, e a  leitura é feita de forma autónoma, e depois é discutida no Clube de Leitura, via Zoom ou presencialmente.

As sessões incluem interpretação em Língua Gestual Portuguesa e o calendário de 2025 já está disponível e podes saber mais aqui.

Desporto

 

“A chama apagou-se, mas a revolução paralímpica tem de continuar.”

Os Jogos Paralímpicos de 2024 trouxeram grandes conquistas para Portugal, que obteve 7 medalhas e 18 diplomas, alcançando a sua melhor participação dos últimos 20 anos. Este ano, o país contou com a representação de 27 atletas, que competiram em 10 modalidades.

Este evento, de enorme relevância desportiva e social, realizou-se em Paris e reuniu 4.500 atletas de 167 países, incluindo uma equipa de atletas refugiados. No total, os Jogos Paralímpicos contemplaram 22 modalidades desportivas.

Durante os Jogos Paralímpicos, a questão da deficiência torna-se, inevitavelmente, mais visível para o público em geral, sendo, na minha opinião, uma excelente oportunidade para chamar a atenção para a necessidade de maior investimento e reconhecimento no desporto paralímpico. No entanto, é também uma ocasião para refletir sobre as barreiras físicas e sociais que estes atletas — que não são heróis, mas sim atletas — enfrentam diariamente, obstáculos esses que frequentemente dificultam ou até impedem o seu melhor desempenho em eventos desportivos.

Partilho convosco dois artigos que considero trazerem reflexões importantes sobre as barreiras para além do desporto paralímpico e sobre a necessidade de manter viva a consciência sobre esta temática, mesmo após o término dos Paralímpicos.

Sobre a autora:
Catarina Oliveira

Nasceu no Porto, cidade onde vive até hoje. É  Nutricionista, Consultora e Formadora para a Diversidade, Equidade e Inclusão e responsável pela Academia Access Lab. Pós Graduada em Estudos da Deficiência e Direitos Humanos pelo ISCTE. Criou o projeto @especierarasobrerodas, uma comunidade no Instagram  com mais de 52.000 pessoas, onde pretende quebrar preconceitos e tabus relacionados com as pessoas com deficiência e criar espaços de diálogo e educação sobre a temática. Trabalha também como palestrante em escolas, universidades, empresas e colabora com marcas nacionais e internacionais, com o objetivo de esclarecer conceitos como o capacitismo e apresentar soluções e boas práticas de acessibilidade, interação e promoção da representatividade da pessoa com deficiência nas diferentes esferas da nossa sociedade.

linktr.ee/catarinapboliveira

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Esta newsletter foi escrita a ouvir:“Debí Tirar Más Fotos”, novo álbum do Bad Bunny.

 

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