Olá,
É com muita alegria que anunciamos o Relatable, o novo programa da Access Lab que estou a liderar, dedicado a combater o abandono escolar de jovens com deficiência.
O Relatable nasce, por um lado, da evidência: os dados mostram que os jovens com deficiência continuam a enfrentar inúmeras barreiras e desafios no seu percurso escolar e, consequentemente, na entrada no mercado de trabalho. Por outro lado, nasce da observação e da experiência enquanto membro de uma equipa que trabalha diariamente a inclusão da pessoa com deficiência em diferentes contextos e enquanto mulher com deficiência que foi, e continua a ser, estudante universitária.
Percebo que muitos jovens e adultos com deficiência ficam para trás não por falta de capacidade, mas por falta de condições, de acesso, de oportunidades e por excesso de capacitismo e barreiras.
O objetivo do Relatable é muito claro: capacitar jovens com deficiência para que se mantenham na escola ou na universidade, definam projetos de vida concretos e tenham acesso a oportunidades reais e a uma rede de contactos.
É um programa pensado para ser útil, prático e transformador, com benefícios muito evidentes: mais orientação, mais ferramentas, mais rede e mais futuro.
Em Portugal, 21,4% dos jovens com deficiência entre os 18 e os 24 anos abandonam o ensino secundário, um valor quatro vezes superior ao dos jovens sem deficiência. Barreiras de acessibilidade, falta de oportunidades e ausência de modelos de referência dificultam o sucesso académico e profissional destes jovens.
Por outro lado, os primeiros resultados do Sistema de Indicadores de Políticas de Inclusão (SIPI), coordenado pelo ISCTE, mostram que, na educação, 68% dos estudantes com deficiência dizem ter sido alvo de gozo ou chacota, 56% sofreram pressão psicológica e 52% foram excluídos de atividades regulares ou visitas de estudo. Na maioria dos casos, as queixas não têm resolução adequada.
O abandono escolar reflete-se, naturalmente, na dificuldade de acesso ao mercado de trabalho. A taxa de emprego das pessoas com deficiência é de 65%, abaixo das pessoas sem deficiência (79,7%). Em 2024, havia 15 589 pessoas com deficiência inscritas como desempregadas e mais de metade estava em situação de desemprego de longa duração. Importa ter em consideração, ainda, que muitas pessoas são institucionalizadas – condição em que as coloca no desemprego, mas não entram para essas estatísticas.
Ou seja: começamos por “perder” estes jovens na escola e continuamos a “perdê-los” no mercado de trabalho e na sua autonomia, perpetuando ciclos de exclusão. Foi por isso que criámos o Relatable.
O Relatable pretende apoiar jovens com deficiência motora, visual, Surdos ou neurodivergentes, que frequentem o ensino secundário ou superior, através de uma abordagem integrada que combina educação, saúde mental, autonomia e participação cívica.
Na prática, o que é que isto significa?
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Projetos práticos: cada jovem escolhe e desenvolve um projeto que pode ser decisivo na sua vida, a curto prazo. Pode ser entrar no ensino superior, começar a fazer voluntariado, tirar a carta de condução ou qualquer outra meta que abra portas ao futuro.
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Mentorias individuais: cada jovem tem ao seu lado um mentor, jovem adulto com deficiência, que o poderá acompanhar de forma próxima para uma melhor orientação no percurso académico, social e emocional.
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Palestras: histórias reais de diferentes pessoas que pretendem mostrar a estes jovens que existem vários caminhos possíveis e diversas oportunidades no futuro.
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Workshops: momentos práticos sobre diversas temáticas como literacia digital, comunicação, cidadania, saúde mental, autonomia e vida independente. Queremos que os jovens tenham informação suficiente para tomar decisões, defender os seus direitos e prepararem-se para entrar no mercado de trabalho com mais confiança.
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Participação cívica: atividades culturais, desportivas e de voluntariado que pretendem aumentar o sentimento de pertença e reforçar a autonomia destes jovens.
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Apoio psicológico: o programa inclui apoio psicológico opcional e confidencial. Crescer com deficiência num país cronicamente inacessível pode ser muito desafiante e cuidar da nossa saúde mental também é uma forma de resistência e de cuidado.
Como já devem perceber, o objetivo do Relatable é simples e, ao mesmo tempo, ambicioso: criar uma rede de suporte que ajude os jovens com deficiência a permanecer na escola, a manter-se na vida ativa e a construir projetos que lhes façam sentido.
Quando me tornei uma pessoa com deficiência, há 10 anos, gostava de ter tido a oportunidade de integrar um programa assim enquanto estava na faculdade. Por isso, não poderia deixar de o divulgar e de pedir a vossa ajuda para chegarmos mais longe.
Assim sendo:
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Jovens com deficiência: não percam esta oportunidade e inscrevam-se!
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Se é professor, técnica ou técnico de inclusão, psicóloga ou psicólogo, assistente social, representante de uma escola ou organização, familiar ou assistente pessoal, também pode fazer parte desta rede. Pode sinalizar jovens, divulgar o programa na sua escola ou instituição, ou explorar parcerias connosco.
INCRIÇÃO GRÁTIS AQUI
Com o Relatable pretendemos criar oportunidades, dar ferramentas e criar futuro para os jovens com deficiência que se juntarem a nós.
Conto convosco?
Obrigada por lerem,
Catarina Oliveira
Sobre a autora:
Nasceu no Porto, cidade onde vive até hoje, é Nutricionista, Consultora e Formadora para a Diversidade, Equidade e Inclusão e responsável pela Academia Access Lab. Pós Graduada em Estudos da Deficiência e Direitos Humanos pelo ISCTE. Criou o projeto @especierarasobrerodas, uma comunidade no Instagram que conta com mais de 52.000 pessoas, onde pretende quebrar preconceitos e tabus relacionados com as pessoas com deficiência e criar espaços de diálogo e educação sobre a temática. Trabalha também como palestrante em escolas, universidades, empresas e colabora com marcas nacionais e internacionais, com o objetivo de esclarecer conceitos como o capacitismo e apresentar soluções e boas práticas de acessibilidade, interação e promoção da representatividade da pessoa com deficiência nas diferentes esferas da nossa sociedade.


