Exercer funções enquanto vereadora municipal sendo uma pessoa com tetraplegia incompleta é, antes de mais, uma afirmação de cidadania ativa e de participação plena. A minha presença nos espaços de decisão política é, por si só, uma forma de quebrar barreiras, visíveis e invisíveis, que ainda hoje limitam o acesso de muitas pessoas com deficiência à vida pública, à autonomia e à representatividade.
A deficiência não define a totalidade do meu ser, mas é uma parte inseparável da minha vivência diária. É através dessa vivência que compreendo, de forma profunda, os obstáculos – físicos, sociais, culturais e institucionais – que tantas pessoas enfrentam para aceder a direitos que deviam ser universais: mobilidade, educação, saúde, habitação, participação.
Na minha ação autárquica, faço questão de trazer essa escuta para o centro. Acredito que nenhuma política deve ser pensada sem considerar a diversidade real das pessoas. A minha experiência pessoal não é uma limitação – é um instrumento político. Permite-me identificar falhas que, muitas vezes, passam despercebidas a quem nunca as viveu. É essa vivência que me leva a defender, com convicção, políticas que promovam autonomia, acessibilidade universal e igualdade de oportunidades.
Esta consciência transforma-se em compromisso: garantir que os espaços públicos são acessíveis, que os serviços municipais são inclusivos e que ninguém é deixado para trás por não corresponder ao “modelo padrão” de cidadania. A inclusão não é um favor – é uma questão de justiça social.
Ser vereadora com deficiência é também assumir o dever de representar e inspirar. Porque a política precisa de rostos diversos, de vozes diferentes, de vivências plurais. É nesse cruzamento entre o pessoal e o político que se constrói uma sociedade mais justa, mais próxima e mais humana.
No fundo, faço política com o corpo inteiro: com a razão, com a escuta, com a experiência e com a convicção profunda de que a mudança começa quando a experiência deixa de ser apenas individual – e passa a ser coletiva e transformadora.
Manuela Ralha
Manuela Ralha é atualmente vereadora na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira com competências na área dos Direitos Sociais, Saúde, Habitação, Cultura e Alimentação e Veterinária.
Co-fundadora da Mithós-Histórias Exemplares, associação de apoio à Multideficiência, do Movimento (d)Eficientes Indignados, do Centro de Apoio à Vida Independente, do Movimento Sim, Nós Fodemos.
Megafone
Breve vídeo desenvolvido pela ABC Australia em que várias pessoas com deficiência respondem “O que gostaríamos que soubessem sobre o que é viver com uma deficiência”.
Clipping
Estudo: Acessibilidade no Futebol
A NOVA FCSH e Access Lab continuam a mapear os hábitos de consumo do público com deficiência, Surdo e neurodivergente. Desta vez, o estudo foca-se na acessibilidade no Futebol.
Um estudo recente, com participação de pessoas com deficiência motora (56%), visual (25%), Surdas (16%), neurodivergentes (6%) e outras, revela os desafios constantes na experiência de consumo de eventos desportivos. O questionário teve como objetivo analisar os hábitos de consumo e identificar os principais constrangimentos enfrentados por pessoas com deficiência.
O sumário executivo pode ser consultado com infográficos aqui e o relatório completo aqui.
Agenda
Eventos com acessibilidade física, legendagem, Língua Gestual Portuguesa e Audiodescrição.
MEO Arena | Lisboa
Capitólio, Parque Mayer, Lisboa
1, 28 e 29 de novembro
Destaque: A MEO Arena vai dedicar o mês de novembro à acessibilidade e promove uma experiência mais inclusiva em três concertos. Vão ser disponibilizados recursos específicos de acessibilidade.
Concertos com recursos de acessibilidade
– Audiodescrição para pessoas cegas ou com baixa visão.
– Língua Gestual Portuguesa (LGP) e Coletes de Vibração para pessoas Surdas.
Concertos incluídos nesta iniciativa:
- 1 de novembro – Miguel Araújo (+ info)
- 28 de novembro – Cantar Morangos (+ info) Espetáculo especial com os projetos musicais de Morangos com Açúcar
- 29 de novembro – Matias Damásio (+ info)
Ivu’kar | Lisboa
Teatro Bairro Alto, Lisboa
9 de novembro
Destaque: Ivu’kar é uma conceção do artista Grilo. Uma performance sobre o cuidado, construída a partir de uma linguagem simbólica, visual e sonora criada entre mãe e filho. Arquiva memórias invisíveis e rituais de afeto em torno do nascimento, da partida e do que está por vir. É uma ficção íntima onde essa língua inventada se traduz em gestos, luz, som e presença.
+ informação: Teatro do Bairro Alto
Acessibilidade
– Concerto com Língua Gestual Portuguesa
