Praia Acessível 2024, The Code of Freaks, a nova edição da Shifter e os Paralímpicos

Imagem de Catarina Oliveira

Olá!

Estamos de volta com a sexta edição da newsletter da Access Lab, depois de um período de férias para descansar e recarregar energias. Nesta edição, é novamente a Catarina que vos escreve, com o entusiasmo renovado para continuar este espaço de partilha e reflexão.

Aproveitei as férias para descansar, mas sendo uma pessoa com deficiência motora, muitos dos conteúdos que vos trago fazem parte do meu quotidiano, mesmo em período de férias.

Nesta edição, vamos falar sobre o Programa Praia Acessível e a importância de garantir que pessoas com deficiência tenham pleno e equitativo acesso a momentos de lazer como ir à praia. Quero-vos falar sobre o documentário The Code of the Freaks, que desafia as representações estereotipadas da deficiência no cinema e da nova edição da revista Shifter, dedicada à deficiência.

Para fechar, na secção de desporto, dou destaque à participação portuguesa nos Jogos Paralímpicos de 2024, onde os nossos atletas brilharam, e refletimos sobre a necessidade de uma verdadeira revolução na inclusão, não só, mas também, em época de Paralímpicos.

Espero que gostem.

Sociedade & Política

 

Embora para muitos as férias de verão já tenham terminado, ainda venho a tempo de abordar o Programa Praia Acessível – Praia para Todos!. Esta iniciativa, que existe desde 2005, resulta de uma colaboração entre o Instituto Nacional para a Reabilitação (INR), da Agência Portuguesa do Ambiente e do Turismo de Portugal. O programa parte do princípio de que todas as pessoas, independentemente das suas características individuais, devem ter o direito de usufruir da praia de forma digna e equitativa, considerando as características naturais das praias e o ambiente envolvente. Este programa foi criado para assegurar que as praias portuguesas disponham de condições de acessibilidade para todos.

Este ano, verificou-se um aumento no número de praias premiadas em comparação com 2023, contabilizando um total de 244 zonas balneares acessíveis: 220 em Portugal Continental, 17 nos Açores e 7 na Madeira.

Dentro deste programa, existe o Prémio Praia + Acessível, cujas candidaturas devem ser enviadas ao INR até ao dia 30 de setembro. Este prémio visa destacar as praias nacionais, sejam costeiras ou interiores, que ostentem a bandeira de Praia Acessível e apresentem as melhores condições de acessibilidade.

No ano passado, a praia vencedora foi a Praia da Foz do Lizandrolocalizada no Município de Mafra.

Cultura

 

O destaque de Cultura deste mês tem 2 sugestões, um documentário e uma revista:

  1. The Code of Freaks:

Este documentário, lançado em 2020, com pouco mais de uma hora de duração, chegou até mim por recomendação de um amigo. The Code of Freaks é uma reflexão provocadora sobre como o cinema tem representado as pessoas com deficiência ao longo dos anos: super-heróis, exemplos de superação, fontes de inspiração apenas por existirem, ou como coitadas, objetos de pena, assistencialismo ou condescendência.

Estas representações distorcidas reforçam estereótipos negativos e paternalistas sobre as pessoas com deficiência, e o documentário demonstra claramente como a sua representação em filmes, séries e novelas está longe de ser realista e é profundamente capacitista.

Para despertar a vossa curiosidade, este documentário intercala exemplos concretos de filmes, tanto antigos como mais recentes, com testemunhos de pessoas com deficiência e as suas opiniões sobre a forma como são retratadas.

The Code of Freaks coloca um holofote necessário nas representações estereotipadas e capacitistas, e na narrativa “inspiracional” que nos reduz a coitadinhos ou a super-heróis (tema que também abordo na minha TedTalk – Acessibilidade para além das rampas).

Está disponível no Vimeo.

  1. Revista Shifter #6

A Revista Shifter, lançada pela primeira vez em 2021, é uma publicação pensada para ser “lida com tempo”.

A sua sexta edição centra-se nas temáticas da Deficiência e Neurodiversidade, reunindo uma diversidade de vozes, com e sem deficiência, e cruzando-as com os temas habituais da revista: tecnologia e culturas visuais.

A capa desta edição é obra da tatuadora e ilustradora Patricia Shime foi reapropriada pela Shifter como uma tentativa de expandir os ícones que servem para representar o tema da deficiência, habitualmente uma pessoa sentada numa cadeira de rodas, num fundo azul.

Nesta edição poderão ler sobre acessibilidade, e a falta dela, em viagens, nas atitudes e na habitação, também sobre a relação entre a tecnologia e o capacitismo, a neurodiversidade, entre outros temas pertinentes e disruptivos.

Remata com o Glossário da Access Lab, uma ferramenta para nos ajudar a uniformizar a linguagem sobre a deficiência e neurodiversidade, evitando termos capacitistas ou perpetuadores de estereótipos.

A revista já se encontra em pré-venda.

Capa da revista Shifter

Desporto

 

“A chama apagou-se, mas a revolução paralímpica tem de continuar.”

Os Jogos Paralímpicos de 2024 trouxeram grandes conquistas para Portugal, que obteve 7 medalhas e 18 diplomas, alcançando a sua melhor participação dos últimos 20 anos. Este ano, o país contou com a representação de 27 atletas, que competiram em 10 modalidades.

Este evento, de enorme relevância desportiva e social, realizou-se em Paris e reuniu 4.500 atletas de 167 países, incluindo uma equipa de atletas refugiados. No total, os Jogos Paralímpicos contemplaram 22 modalidades desportivas.

Durante os Jogos Paralímpicos, a questão da deficiência torna-se, inevitavelmente, mais visível para o público em geral, sendo, na minha opinião, uma excelente oportunidade para chamar a atenção para a necessidade de maior investimento e reconhecimento no desporto paralímpico. No entanto, é também uma ocasião para refletir sobre as barreiras físicas e sociais que estes atletas — que não são heróis, mas sim atletas — enfrentam diariamente, obstáculos esses que frequentemente dificultam ou até impedem o seu melhor desempenho em eventos desportivos.

Partilho convosco dois artigos que considero trazerem reflexões importantes sobre as barreiras para além do desporto paralímpico e sobre a necessidade de manter viva a consciência sobre esta temática, mesmo após o término dos Paralímpicos.

Sobre a autora:
Catarina Oliveira

Nasceu no Porto, cidade onde vive até hoje, é  Nutricionista, Consultora e Formadora para a Diversidade, Equidade e Inclusão e responsável pela Academia Access Lab. Pós Graduada em Estudos da Deficiência e Direitos Humanos pelo ISCTE. Criou o projeto @especierarasobrerodas, uma comunidade no Instagram que conta com mais de 52.000 pessoas, onde pretende quebrar preconceitos e tabus relacionados com as pessoas com deficiência e criar espaços de diálogo e educação sobre a temática. Trabalha também como palestrante em escolas, universidades, empresas e colabora com marcas nacionais e internacionais, com o objetivo de esclarecer conceitos como o capacitismo e apresentar soluções e boas práticas de acessibilidade, interação e promoção da representatividade da pessoa com deficiência nas diferentes esferas da nossa sociedade.

linktr.ee/catarinapboliveira

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Esta newsletter foi escrita a ouvir:

“CAJU” de Liniker.

 

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