Filipa Pinto Coelho

Mudar o olhar sobre a diferença

O meu caminho no mundo da diferença começou com o diagnóstico de trissomia 21 do Manuel, às 15 semanas de gravidez. Até lá, e embora já tivesse contacto próximo com esta realidade, era algo ainda muito longe de mim: da minha vida, do meu dia a dia, do meu olhar.

Após os naturais momentos de medo e angústia, uma luz finalmente surgiu no horizonte: “se estou com tanto medo, é pela dificuldade que existe em conhecer, naturalmente, uma realidade que hoje é tão distante, seja para mim, seja para a maioria das pessoas”, pensei. Este medo não era senão uma reação ao desconhecido, uma reação natural que temos e que surge como um mecanismo de sobrevivência.

Foi então que após um ano de muitas perguntas, de muitas conversas tão interessantes com famílias com filhos com algum tipo de diferença, com responsáveis de instituições que trabalham há tantos anos a inclusão, com terapeutas incansáveis no seu esforço de apoiar a normalização da vida de quem tem algum tipo de incapacidade, concluí que muito já se faz por trabalhar as empresas, muitas lutas se travam nas escolas que teimam em rejeitar esta oportunidade de integrar a diferença nas salas de aula, mas ainda não se trabalhava a Sociedade – a pessoa por detrás do profissional – como primeiro foco essencial desta aproximação à diferença.

Assim, se existisse uma forma que proporcionasse a esta sociedade, a cada um de nós, como cidadãos, como pessoas que somos, oportunidades positivas, naturais e regulares de conhecermos pessoas com diferenças ou incapacidades, muito provavelmente este medo deixaria de ter lugar, pois ela passaria a fazer genuinamente parte de nós. E então, o José – Professor, a Sofia – CEO, o Manuel – Recrutador, a Rita – Colega, o Pedro – Amigo, são uma só pessoa, que se lembrará que a diferença existe pois no seu percurso para o trabalho, para a escola, para casa, para um momento de lazer com amigos, teve oportunidade de se cruzar com pessoas incríveis, com incapacidades que se deixaram de ver, simplesmente porque foi o olhar que entre eles se cruzou que fez a diferença. A experiência foi natural e positiva, o preconceito desapareceu, e a vida continuou, só porque sim.

Através da VilacomVida e nos cafés Joyeux trazemos diariamente esta diferença para o centro das nossas vidas e das nossas cidades. Desde novembro de 2021 servimos com o coração, hoje em já 5 cafés-restaurantes localizados em elevados centros de passagem, que empregam perto de 60 pessoas, 32 das quais com dificuldade intelectual e do desenvolvimento, quase meio milhão de pessoas que todos os dias têm esta oportunidade de mudar o seu olhar sobre a diferença, de se tornarem embaixadores desta tão grande alegria que é genuína da parte de quem teve finalmente oportunidade de assinar um contrato de trabalho e demonstrar o seu valor para uma vida autónoma, realizada, feliz – porque em Comunidade – na sua “diferença”.

Acreditamos que o caminho que transforma tem que ser por aqui. Junto de todos e de cada um. E um dia esta diferença já não se verá, pois fará genuinamente parte de nós.

Filipa Pinto Coelho

Filipa Pinto Coelho é presidente da Associação VilacomVida – a mais valia na diferença, e CEO da empresa Joyeux Portugal, marca francesa de restauração inclusiva e solidária que se internacionalizou pela primeira vez pelas suas mãos em Portugal. De personalidade naturalmente muito positiva, aplicou a formação académica nos domínios da comunicação, gestão de marketing e gestão das organizações sociais, e a experiência profissional de mais de 20 anos como marketeer em diversos sectores de atividade, para fazer nascer e crescer a missão de transformação social que abraçou na organização que dirige, após o nascimento do seu filho Manuel, diagnosticado com trissomia 21 às quinze semanas de gravidez.

Megafone

Nesta série documental romântica, solteiros e solteiras no espectro autista lidam com encontros no mundo moderno em busca do par perfeito. “Amor no Espectro” é uma série  emocionante sobre pessoas no espectro autista e as suas aventuras amorosas. Disponível na Netflix.

  


Clipping


Não vemos nenhum jovem com Trissomia 21 a trabalhar na TV, num museu, numa farmácia

 

Jornal Expresso – Artigo

Diogo Melo tem 30 anos e um simples sonho: conseguir um emprego das nove às cinco. A trissomia 21 nunca o impediu de procurar a sua independência, mas a dificuldade em encontrar emprego e a discriminação de que se sente alvo continuam a forçá-lo a depender dos pais.


 

Agenda

Eventos com acessibilidade física, legendagem, Língua Gestual Portuguesa e Audiodescrição. 

Grease, o musical | Lisboa

Capitólio, Parque Mayer, Lisboa

10, 11 e 23 de outubro


Destaque:
  O musical Grease, produzido pela Yellow Star Company, regressa aos palcos com novo elenco e encenação de Paulo Sousa Costa. Em português, mantém as canções originais em inglês, como Summer Nights e We Go Together.

Passada nos anos 50, na Califórnia, a história acompanha Danny e Sandy, que vivem um romance de verão e se reencontram na mesma escola. Entre altos e baixos, o amor floresce até ao esperado final feliz. O humor juvenil e irreverente faz deste enredo um clássico que continua a encantar gerações.

+ informação: Capitólio

Acessibilidade
– 
Sessões com audiodescrição: 10, 11 de outubro.
– Reconhecimento de palco uma hora antes: 23 de outubro. A legendagem deste espetáculo é descritiva.


 

Aquela Canção Sobre o Fim | Lisboa 

Teatro São Luiz, Lisboa
9 a 26 de outubro


Destaque:
 Uma reunião de amigos do secundário que rapidamente se transforma em desastre. O que parece um simples jantar revela tensões, segredos e rivalidades, numa comédia ácida e tragédia contemporânea inspirada na mitologia grega, que também reflete sobre a “cultura de cancelamento” e a hipocrisia das relações modernas.

+ informação: Teatro São Luiz

Acessibilidade
– Sessão com Língua Gestual Portuguesa – 12 de outubro.
– Sessão com legendagem – 15 a 19 de outubro.
– Sessão com audiodescrição – 24 e 26 de outubro.

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