Depois de outros três estudos na área da cultura, mapeando a realidade de pessoas com deficiência, Surdas e neurodivergentes, a NOVA FCSH e a Access Lab, com apoio da Fundação Ageas, chegam agora ao futebol.
Um estudo recente, envolvendo pessoas com deficiência motora (56%), visual (25%), Surdas (16%), neurodivergentes (6%) e outras, revela os desafios persistentes na experiência de consumo de eventos desportivos. O questionário, aplicado online, teve como objetivo analisar as hábitos de consumo e identificar os principais constrangimentos experienciados por estes públicos.
O sumário executivo pode ser consultado com infográficos aqui e o relatório completo aqui.
Três conclusões importantes destacam-se:
Dificuldades na Compra de Bilhete: 17,7% dos inquiridos reportaram dificuldades no processo de aquisição do bilhete, com 43,8% a apontar problemas técnicos das plataformas online como a principal barreira. Os participantes enfrentam um dilema: ou a compra online não é transparente sobre as condições dos lugares acessíveis, ou são forçados a compras presenciais em bilheteiras (muitas vezes inacessíveis), evidenciando a necessidade de plataformas digitais inclusivas.
Lacunas na Informação e Serviços Essenciais: Quase metade dos participantes não encontrou informação sobre parqueamento e casas de banho acessíveis (45,8%). Além disso, uma esmagadora maioria (82,3%) não encontrou uma fila de bar prioritária. Estes dados sublinham a urgência de comunicar recursos de acessibilidade de forma detalhada online e no local, garantindo que serviços básicos tenham balcões rebaixados e atendimento prioritário.
Pouca Participação e Falhas no Apoio: A participação em eventos desportivos, em estádio, é baixa, com uma grande maioria a assistir a um número reduzido de eventos (apenas 37,5% assistiu apenas a 1 evento, 33,3% entre 2 e 5 e 29,2% uma quantidade superior). Quase metade dos participantes (46,9%) necessitou de apoio durante o evento, e desses, mais de um terço (37,8%), reportou que o pedido de assistência não foi resolvido. Este cenário sugere que as barreiras desincentivam o regresso aos estádios para experiências futuras e aponta para uma falha no serviço e na capacitação das equipas de acolhimento, reforçando a importância da política de bilhete de acompanhante.
O estudo realça que, embora a maioria dos inquiridos tenha avaliado a experiência como boa (44,8%) ou excelente (13,5%), ainda existe uma lacuna relevante nas condições de acessibilidade.
O presente estudo dá continuidade ao trabalho de mapeamento das experiências de fruição cultural de públicos com deficiência e Surdos, reforçando a importância da acessibilidade plena em todos os setores da cultura e entretenimento. Este foco alinha-se, nomeadamente, com as diretivas da UEFA e o trabalho contínuo desenvolvido em parceria com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) no âmbito da acessibilidade no desporto, sublinhando que as lições e lacunas identificadas na cultura são transversais a grandes eventos e recintos, incluindo os desportivos.
Os 3 estudos anteriores podem ser consultados aqui e o mais recente estudo aqui.
Na Access Lab acreditamos que o futebol permite ao entretenimento chegar mais longe em formas de acolher, inovar e superar barreiras estruturais na organização de eventos. Vimos isso no terreno, ao trabalhar diferentes jogos. Investimos neste estudo realizado pela FCSH, da Universidade Nova de Lisboa, para fazermos uma análise mais profunda e isenta do panorama com o apoio da Fundação Ageas. Encontramos um panorama que ainda precisa de muito trabalho, investimento e compromisso. Sentimos que a mudança está a ser construída por todas as partes e precisa de continuar com as comunidades no seu centro.
Tiago Fortuna e Jwana Godinho, fundadores da Access Lab
Mesmo em recintos desportivos que comunicam ser acessíveis a estas comunidades, subsiste uma lacuna em relação à qualidade dos acessos, o que se traduz em barreiras à fruição plena de eventos desportivos.
Dora Santos Silva e José Sotero, professores e investigadores da NOVA FCSH
A Fundação Ageas acredita que o conhecimento da experiência vivida pelas pessoas com deficiência é essencial para promover uma sociedade mais inclusiva. Este estudo reforça o nosso compromisso em apoiar iniciativas que promovam a inclusão, também no desporto, e orientem respostas mais justas e eficazes.
João Machado (Presidente da Fundação Ageas)


