Fiscalização, jornalismo de investigação e festivais de música

Imagem de Tiago Fortuna

Olá!

Com o verão, chegamos à quinta edição da Ensaio. É tempo de férias e de celebrar, por isso, trago-vos os concertos que não vou perder. Os dias mais calmos também devem servir para refletir, assim, escrevo-vos sobre inquietações políticas na área da deficiência.

Em junho, estive em Nova Iorque, concretizei um sonho. Embarcar foi um desafio tremendo, planeei a viagem com o meu assistente pessoal mas ele foi impedido de viajar. Isto leva-me a urgir a nossa classe política a continuar o trabalho sobre as condições laborais dadas aos assistentes pessoais em Portugal. Ainda não há uma palavra pública do atual governo sobre a assistência pessoal.

O meu assistente pessoal tem nacionalidade brasileira e um contrato fixo com o nosso CAVI, está comigo desde fevereiro de 2023. A embaixada dos Estados Unidos negou-lhe o visto. Acabei por viajar com o meu pai, e as concretizações foram tremendas, mas negaram-me um direito essencial, tanto no meu país como no de origem da assistência pessoal.

Isto leva-me a questionar em que ponto está a consciência pública e política sobre a vida das pessoas com deficiência em Portugal. O que é que vai ser feito nos próximos tempos? Ou melhor, o que estamos a fazer?

Abaixo convido-vos a assinar a petição pública da Associação Salvador pela fiscalização das acessibilidades e gostava, cada vez mais, que o mundo do jornalismo se tornasse um aliado pela responsabilização cívica. Para isso, são precisas investigações. Convido-vos a ler e ver 3 reportagens importantes que saíram no último ano sobre temas centrais (surdez, esterilização forçada e acessibilidade).

Porque o meu verão é feito de festivais de música, na secção de cultura, convido-vos a dançarem comigo nos 6 concertos que mais antecipo. E porque no futebol se vivem dias de euforia, termino com a importância estratégica da acessibilidade para UEFA no Euro 2024.

Fiquem connosco!

Sociedade & Política

 

Ter o visto do meu assistente pessoal negado para entrar nos Estados Unidos da América comigo foi o episódio mais recente que vivi de discriminação. Pergunto-me como é que isto se combate e acredito, cada vez mais, que a luta deve ser interseccional.

Se por um lado precisamos de estimular a pedagogia, por outro temos de ser implacáveis na aplicação da legislação e nas fiscalizações. Há um papel fundamental a desempenhar pelas entidades públicas, outro pelos media e pela sociedade civil. Todos podemos fazer mais.

Deixo-vos com dois reptos:

  1. Assinar a petição da Associação Salvador pela fiscalização das acessibilidades em Portugal

  2. Produzir mais investigações jornalísticas sobre a deficiência: o jornalismo é o quarto pilar da democracia, se a agenda mediática nos forçar a lidar com a deficiência o tecido social e político será forçado a mudar. O último ano deu-nos três bons exemplos de reflexão:

Cultura

 

Em tempo de festivais de verão, estes são os 6 concertos que não vou perder. Se quiserem saber mais sobre os artistas, todos estão hiperligados com uma actuação que faz justiça ao potencial dos seus espectáculos.

  1. Patti Smith (7 Julho, Jardins do Marquês, Oeiras)

  2. Chaka Khan (10 Julho, Ageas CoolJazz, Cascais)

  3. Jessie Ware (11 Julho, NOS Alive, Oeiras)

  4. Kylie Minogue (13 Julho, British Summer Time, Londres)

  5. Stormzy (20 Julho, Super Bock Super Rock, Meco)

  6. RAYE (31 Agosto, MEO Kalorama, Lisboa)

As condições de acessibilidade dos festivais são distintas. Aconselho o contacto direto com a organização ou a visita dos sites. Deixo também nota do progresso: entre os 6 concertos apenas para os de Chaka Khan, no Ageas CoolJazz, e Jessie Ware, no NOS Alive, não é contemplada a entrada sem custos de acompanhante ou assistente pessoal.

Desporto

O Euro 2024 está a decorrer em 10 cidades da Alemanha até 14 de julho. Na Access Lab, continuamos o nosso caminho pela acessibilidade no futebol, aos olhos da UEFA e da FIFA existem condições que não têm termo negocial (como o bilhete de acompanhante e a audiodescrição). Isto mostra-nos como podemos ir mais longe em todo o entretenimento. Convido-vos a visitar o exemplo da página de acessibilidade da cidade de Berlim no Euro 2024.


Capa do disco de Beyoncé "Cowboy Carter". A artista está em cima de um cavalo branco a empenhar a bandeira dos Estados Unidos da América.

Esta newsletter foi escrita a ouvir “Cowboy Carter” de Beyoncé.

 

Sobre o autor:
Tiago Fortuna

Apaixonado pela cultura no sentido lato, acredita na pop como meio de democracia cultural. Co-fundou a Access Lab em 2022 para garantir o acesso de pessoas com deficiência e Surdas. Com a Access Lab, tem implementado projectos de inclusão em algumas das maiores salas de espectáculos, festivais e empresas. Antes, foi assessor de imprensa na LiveCom e fundou a Associação Portuguesa de Festivais de Música. É licenciado em Ciências da Comunicação pela FCSH – UNL, a mesma instituição onde se pós-graduou em Comunicação de Cultura e Indústrias Criativas.

linktr.ee/tiagofortuna

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