Olá!
Voltamos com a segunda edição da nova newsletter da Access Lab, desta vez assinada por mim, Catarina. A recetividade à primeira edição foi boa e ficámos verdadeiramente felizes pela criação deste novo espaço de reflexão e partilha.
Trago-vos alguns temas sobre a liberdade e democratização do corpo e da circulação das pessoas com deficiência. Temáticas que raramente são faladas, como a assistência sexual, e medidas que finalmente vêem a luz do dia, como o Cartão Europeu da Deficiência. Destaco ainda a importância do Coletivo Matéria e da análise dos programas eleitorais.
Convido-vos a conhecer um festival inovador: Belém Soundcheck; um livro e um podcast, com uma autora em comum; e um filme que nos traz sensações e reflexões fora da caixa. Remato com um convite para apoiarem a nossa seleção portuguesa de futebol, em Guimarães, desta vez, com mais recursos de acessibilidade.
Espero que gostem!
Sociedade & Política
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Assistência Sexual: A sexualidade da pessoa com deficiência é, ainda, mais do que um tabu, um assunto invisível e inimaginável para a sociedade. Afunilar a temática da “sexualidade na deficiência” para a complexidade da assistência sexual, permite-nos levantar questões importantes sobre dignidade, autonomia e direitos humanos. Apesar da invisibilidade deste assunto, já em 2013 se criaram movimentos em Portugal, por coletivos como o Deficientes Indignados. Este mês foi publicada uma reportagem na plataforma Gerador, com o título: Assistência Sexual e Democratização do Acesso ao Corpo, onde ativistas e especialistas explicam os diferentes modelos da assistência sexual em Portugal e na Europa e reconhecem a necessidade da criação de políticas públicas, para que a sexualidade de todas as pessoas, independentemente das suas capacidades físicas e cognitivas, seja respeitada.
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Cartão Europeu da Deficiência e Cartão Europeu de Estacionamento para pessoas com deficiência: finalmente chegou o acordo político entre o Parlamento Europeu e os Estados Membros da União Europeia sobre a Diretiva proposta pela Comissão Europeia em Setembro do ano passado para a criação e melhoria nestes cartões. Viajar, ter a nossa deficiência reconhecida e os nossos direitos garantidos em qualquer país europeu, é ainda um desafio para muitos de nós, por não haver uma uniformização nos diferentes documentos, o que impede a liberdade para ir e vir dos cidadãos europeus com deficiência. Este foi um primeiro e importante passo, mas ainda teremos de aguardar para que os documentos fiquem ativos na União Europeia. Especificamente, em, pelo menos, 30 meses os Estados-Membros terão de incorporar as disposições da diretiva para a legislação nacional e, um ano depois, vai ser possível requisitar os cartões.
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Coletivo Matéria: acredito profundamente na importância e no poder do coletivo. Coletivo de ideias, de debates, de conversas, de pessoas. Este mês surgiu o Coletivo Matéria do qual faço parte, com mais 49 pessoas até aos 35 anos, uma plataforma que pretende reunir ideias de diferentes esferas da sociedade e apresentá-las aos decisores políticos, para que possam estar mais perto de serem pensadas, trabalhadas e, quem sabe, concretizadas. Este coletivo partiu de um manifesto que conta com um grupo de subscritores com um papel relevante na sociedade. Se tens uma ideia, menos de 35 anos, e queres ter voz na matéria, tens aqui uma oportunidade para contribuir para a mudança.
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Programas eleitorais: aproxima-se a data das eleições legislativas de 2024 e os programas eleitorais já estão disponíveis para consulta. E que governo podem esperar as pessoas com deficiência em 2024?, Tiago Fortuna, no Expresso, responde a esta pergunta, com um resumo brilhante e eficaz sobre as medidas propostas pelos principais partidos para as pessoas com deficiência.
Cultura
Quatro sugestões para todos os gostos e em vários formatos
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Festival Belém Soundcheck (Instagram, Facebook, YouTube)
Este ano surge um novo festival de música no Centro Cultural de Belém: Belém Soundcheck (21 a 24 de março). Um festival bienal, inovador e diversificado que não deixa de lado a inclusão e a acessibilidade. Pelo contrário, torna-a uma das suas prioridades. Num trabalho conjunto com a Access Lab, oferecerá eventos como “Songs for Shakespeare”, imaginado por Maria João e João Farinha, com interpretação em Língua Gestual Portuguesa; a apresentação do novo disco de Amaro Freitas, “Y’Y,” com coletes sensoriais para pessoas surdas; um concerto da Kremerata Baltica com audiodescrição para pessoas cegas. As pessoas com deficiência e acompanhante têm 50% de desconto nos bilhetes.
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Podcast “The Accessible Stall”
Destaco este podcast porque considero a abordagem dos temas de acessibilidade e inclusão, perfeitamente alinhada com um dos lemas da comunidade de pessoas com deficiência: Nada sobre nós, sem nós. Nestas conversas, entre duas pessoas com diferentes deficiências, são partilhadas histórias pessoais, entrevistas com especialistas e debates sobre políticas inclusivas. O objetivo é claro e, a meu ver, conseguido: educar, desmistificar e promover uma compreensão mais profunda da importância da inclusão. Este podcast está disponível em diferentes plataformas e tem o recurso de transcrição ativo e disponível.
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Livro “Demystifying Disability: What to Know, What to Say, and How to Be an Ally”
Conheci a Emily Ladau através do podcast que vos falei anteriormente, do qual é co-autora. Depois de ouvir uns episódios, percebi que a leitura do seu livro, e agora a sua recomendação, seriam obrigatórias. Tem uma linguagem simples e clara que, à semelhança do podcast, pretende desmistificar a deficiência, oferecendo orientações para uma interação não capacitista com a pessoa com deficiência e dicas práticas para o leitor poder ser um aliado eficaz na luta desta comunidade. Este livro conta com a possibilidade de ser adquirido em papel, em versão digital e em formato Word resumido e com linguagem simples .
A imagem da capa possui texto alternativo.
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Filme “Poor Things”.
Confesso que fiquei fascinada por este filme, ainda antes de o ver, quando li sobre ele. “Poor Things” é dirigido por Yorgos Lanthimos, lançado em 2023, e foi para mim uma maravilhosa surpresa, que me transportou para um mundo polarizado entre a fantasia, a inocência e a realidade crua, cruel e visceral. A grande maioria da crítica aclamou o filme e destacou a performance, a meu ver incrível, de Emma Stone. A trama, explora a jornada de Bella Baxter, uma jovem que é trazida de volta à vida com um cérebro diferente (sim, é complexo), e nos instiga a refletir sobre a igualdade de género, a liberdade sexual e de pensamento e a quase inevitável opressão vinda de uma sociedade machista, misógina e patriarcal.
Nota sobre acessibilidade: o filme estará em exibição em todas as grandes cadeias de cinema nacionais que, na sua maioria, têm acessibilidade física (estacionamento, lugares designados, balcões rebaixados e casas de banho) mas sem bilhete de acompanhante ou audiodescrição.
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Esta newsletter foi escrita a ouvir “Trovador” do Ivandro.
Sobre a autora: Nasceu no Porto, cidade onde vive até hoje, é Nutricionista, Consultora e Formadora para a Diversidade, Equidade e Inclusão e responsável pela Academia Access Lab.. Atualmente frequenta a Pós Graduação em Estudos da Deficiência e Direitos Humanos no ISCTE. Criou o projeto @especierarasobrerodas, uma comunidade no Instagram que conta com mais de 49.000 pessoas, onde pretende quebrar preconceitos e tabus relacionados com as pessoas com deficiência e criar espaços de diálogo e educação sobre a temática. Trabalha também como palestrante em escolas, universidades, empresas e colabora com marcas nacionais e internacionais, com o objetivo de esclarecer conceitos como o capacitismo e apresentar soluções e boas práticas de acessibilidade, interação e promoção da representatividade da pessoa com deficiência nas diferentes esferas da nossa sociedade. |