A missão do Teatro

Já é longo o caminho que o São Luiz Teatro Municipal tem feito na área da acessibilidade, dando-lhe um lugar prioritário na sua estratégia enquanto Teatro Municipal. Gostamos de dizer que o São Luiz é para todos – e diariamente trabalhamos para que isso seja uma realidade óbvia e natural para quem nos visita. Um princípio que nos norteia desde a receção aos espectadores, prolongando-se na experiência do espetáculo e que é determinante na forma como apresentamos e desenhamos a programação da temporada.

Acreditamos que um Teatro não cumprirá nunca a sua missão se não for de todos e para todos. A inclusão das pessoas com deficiência no espaço público e nas instituições culturais em particular, é um objetivo estratégico para a valorização de todos os cidadãos. Só uma sociedade que inclui todas as pessoas pode concretizar o seu verdadeiro potencial.

Esta inclusão tem implicações transversais em todas as áreas das políticas públicas devendo, no entanto, ser definidos objetivos prioritários que orientem a sua ação. A estratégia de promoção da acessibilidade e da inclusão considera também dimensões relativas à igualdade de género, à integração de pessoas de grupos vulneráveis, à valorização da interculturalidade e ao reforço da coesão social. Pressupõe, como elemento fundamental, que se está perante pessoas com características e realidades muito diversas, com graus diferenciados de autonomia, que carecem de soluções distintas.

Os desafios que se colocam à sua participação e envolvimento são de natureza muito diversificada e que tal deve ser atendido no desenho das medidas de política pública. Acreditamos na necessidade de aprofundar o trabalho já realizado e de continuar a desenvolver um conjunto de políticas para a inclusão que se constituam como instrumentos de inteligência coletiva social, capazes de contrariar desvantagens e limitações e de desenvolver ciclos de oportunidade de ação, de inclusão e de melhoria da qualidade de vida. É por isto também que a promoção da acessibilidade aos espaços culturais, e a sua divulgação, tem inevitavelmente que passar pelo envolvimento de todos.

Desde 1997, a Língua Gestual Portuguesa (LGP) é uma das línguas oficiais de Portugal e desde 2007 que o São Luiz a integra na sua programação, a pensar na comunidade Surda. Desde 2016, temos Audiodescrição (AD) de algumas sessões dos espetáculos que apresentamos, possibilitando que pessoas com deficiência visual assistam às propostas artísticas de forma plena e autónoma através da descrição objetiva de todas as informações que apreendemos visualmente (expressões faciais, ambiente cénico, etc.) e também do reconhecimento prévio do palco. Nas Sessões Descontraídas (SD), criadas em 2015, adaptamos os conteúdos às necessidades da plateia e tornamos a atmosfera dentro da sala mais acolhedora, através de uma maior tolerância no que diz respeito ao movimento e ao barulho. São, por isso, sessões abertas a todos os espectadores, incluindo aqueles que têm condições do espetro autista ou deficiência intelectual, sensorial ou de comunicação em que apelamos sempre ao respeito das classificações etárias para cada espetáculo.

Gostamos de conhecer os pressupostos, as inspirações e as motivações dos espetáculos que apresentamos no São Luiz. É por isso que na maioria das vezes organizamos conversas com as equipas artísticas, normalmente depois de uma das sessões, de forma a incentivar o diálogo entre artistas e espectadores. A acessibilidade intelectual também é um vetor fundamental do nosso trabalho, assim sendo procuramos com o público, trabalhar as diferentes formas de receção de um espetáculo.

Muitas vezes acontecem visitas guiadas gratuitas para escolas, parceiros e grupos carenciados, com elementos da equipa da casa que orgulhosamente transmitem o seu saber.

Sempre com uma linguagem descontraída, acreditamos que esta é uma forma de chegar de forma mais direta aos espectadores. A leitura da folha de sala, por exemplo, feita antes ou depois da visualização do espetáculo, abre novas perspetivas sobre o objeto artístico, desvendando processos, propósitos e metodologias de trabalho. Para isso contribui ainda o grafismo, a edição e a composição dos textos tendo em conta as condições de leitura antes do início dos espetáculos, sobretudo o reduzido tempo disponível e a baixa iluminação. A composição gráfica do texto procura integrar os parâmetros máximos de legibilidade: texto preto sobre fundo branco, corpo de letra generoso (12 pts) e composição em duas colunas, garantindo um máximo de 5/6 palavras por cada linha e uma leitura mais rápida e fluida.

Querendo contribuir para a mudança, o Teatro São Luiz assume num manifesto que:
• Todos os espectadores têm o direito de usufruir de igual modo os espetáculos.
• Os espetáculos devem ser escritos e desempenhados tendo em conta as necessidades do
público.
• Os Teatros e equipamentos culturais devem ser pensados para evitar barreiras ao usufruto
dos espectadores.
• Os espetáculos devem ser audiodescritos.
• Os espetáculos devem ser legendados e/ou traduzidos em língua gestual.
• O financiamento público do teatro deve encorajar serviços de inclusão em todas as suas
apresentações.
• Os encenadores, atores e técnicos devem ser informados sobre as necessidades do seu
público e da equipa.

Estamos cientes que apesar de este ser um caminho longo a percorrer, estamos no sentido certo de sensibilizar entidades culturais, artistas, público, e associações, em relação às barreiras enfrentadas por diferentes pessoas e consequentemente também pelos seus familiares e amigos no acesso à oferta cultural. Conscientes também de que como Instituição pública temos a obrigação de dar o exemplo para uma integração e fruição cultural a todos os cidadãos.

É assim que estamos a trabalhar, orgulhosamente, no Teatro Municipal São Luiz.

Aida Tavares
Diretora artística do São Luiz Teatro Municipal


Amplificador

Disability and work: Let’s stop wasting talent” | Hannah Barham-Brown | TEDxExeter

Hannah Barham-Brown, médica, defensora da deficiência e membro do British Medical Association Council. Em 2018, foi nomeada uma das 100 pessoas com deficiência mais influentes do Reino Unido na lista de 100 pessoas do Shaw Trust’s Disability Power 100, pelo seu trabalho na medicina, política e meios de comunicação social.

Agenda

Eventos com acessibilidade física, legendagem, Língua Gestual Portuguesa e Audiodescrição. 


São Luiz Teatro Municipal | Estrada de Terra 
24 de Setembro a 2 de Outubro, Loulé

Destaque: Um homem (Luís) encontra-se retirado numa casa de campo com uma mulher (Leonor) em fuga à rotina citadina, quando recebe uma chamada de um amigo (Marco) com quem cortou relações há cerca de dez anos. Um pedido de desculpas que é também um grito de ajuda, que Luís recusa e que Leonor testemunha. Com uma linguagem violenta e sem filtros, esta peça apresenta a tragédia de uma geração que se debate pela busca da autenticidade numa sociedade decadente.  

+ info: São Luiz Teatro Municipal

Acessibilidade: Língua Gestual Portuguesa a 2 de Outubro.
 


Teatro Municipal do Porto | Blasons + Doesdicon – François Chaignaud  + Tânia Carvalho / Dançando com a Diferença 
1 de Outubro, Porto

Destaque: Dançando com a Diferença é uma companhia de dança fundada em 2001, na Madeira. Desde desde 2014 mantém uma relação cúmplice com o Teatro Viriato como projeto residente. É neste trabalho em diversas frentes que esta estrutura tem lançado a nível nacional e internacional as sementes de um relevante trabalho artístico, pedagógico e de sensibilização para a inclusão social, que por sua vez tem sido acolhido com sucesso, quer pelo público, quer por entusiastas da dança inclusiva, escolas e instituições. 

+ info: Teatro Municipal do Porto

Acessibilidade: Audiodescrição.


CCB | Formação Audiodescrição para Exposições  
De 4 de Outubro a 14 de Novembro, Lisboa (Inscrições até 30 de Setembro)

Destaque: A Garagem Sul – Centro Cultural de Belém acolhe a formação Audiodescrição para Exposições: Mergulhar no Espaço e na Obra. Curso online e presencial de 52 horas (síncronas e assíncronas) com a formadora Eliana Franco e o consultor Paulo Reis Simões.

+ info: CCB


Mais sugestões em www.cultura-acessivel.pt

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