Novembro: o mês da Língua Gestual Portuguesa

Olá!

Volto em novembro, o mês da Língua Gestual Portuguesa. Um ano depois de uma Ensaio minha, é inevitável fazer um balanço. Antes de continuar, recomendo a leitura da 8.ª Ensaio, para mais contexto.

Mariana Bártolo

Sociedade & Política

 

Depois do passo histórico dado com a proposta do Bloco de Esquerda para o reconhecimento da Língua Gestual Portuguesa como meio de comunicação e expressão do Estado Português, aprovada no contexto do Orçamento de Estado para 2025, pouco depois da primeira Concentração Nacional pela Acessibilidade para a Comunidade Surda, parecia que algo ia finalmente mudar. Pois bem, um ano passou. E o que mudou? Nada de concreto. Nenhum despacho, nenhum plano, nenhuma ação pública. As expectativas também não eram assim tão altas.

Em julho, a Resolução n.º 99/XVII/1, apresentada pelo partido LIVRE para reforçar a LGP nas escolas e tornar efetivo o reconhecimento oficial, foi rejeitada em plenário, a par de várias propostas sobre educação inclusiva que tiveram o mesmo destino.

E na mesma onda das propostas na área da inclusão, o PAN apresentou o Projeto de Lei n.º 55/XVII/1.ª, construído com contributos da própria Comunidade Surda, para reconhecer formalmente os direitos linguísticos das pessoas surdas. Pasmem-se: também não passou.

Continuamos a assistir, quase sem espanto, à forma como os direitos humanos das pessoas surdas e com deficiência são tratados como um plano secundário na prática política.

Por isso, voltamos à rua. No próximo 15 de novembro, pelas 14 horas, na Avenida dos Aliados, no Porto, realizaremos a segunda Concentração Nacional pela Acessibilidade para a Comunidade Surda.

Juntem-se a nós!

 

Desporto

Também no ano passado mencionei os Surdolímpicos. Chegou o momento!

Entre 17 e 25 de novembro, a cidade de Tóquio acolhe os Surdolímpicos 2025, onde Portugal será representado por treze atletas surdos em modalidades como atletismo, natação, judo, ciclismo e tiro.

A missão portuguesa é composta por 36 elementos (atletas, treinadores, equipa médica e uma intérprete de Língua Gestual Portuguesa).

Podem acompanhar o percurso da missão portuguesa através do Instagram do Comité Paralímpico de Portugal e no website oficial dos Surdolímpicos em Tóquio:  https://deaflympics2025-games.jp/en

 

Cultura

Cinema

O filme “O Lugar dos Sonhos”, realizado por Diogo Morgado, foi exibido no dia 15 de outubro, em doze salas NOS, em simultâneo, com interpretação em Língua Gestual Portuguesa e legendas adaptadas. Foi um momento histórico: um filme português foi visto pela Comunidade Surda nos grandes ecrãs. As salas encheram-se e o sentimento de conquista era visível.

Porém, foi também um evento isolado. Ainda não é possível, em Portugal, uma pessoa surda escolher o dia e a hora para ver um filme português acessível, como qualquer outra pessoa. Mas o essencial está feito, provou-se que é possível.

O filme em si é enternecedor e, através da legendagem, pude compreender algumas expressões idiomáticas às quais não teria acesso de outra forma. Acho que vale a pena para uma sessão no sofá, com uma manta e uma chávena de chá, como este outono está a pedir!

Teatro

Em Lisboa, o Teatro Variedades, no Parque Mayer, está a testar algo novo: uns óculos que permitem ver o intérprete de LGP projetado durante o espetáculo. Uma ideia ousada que quero experimentar.

Talvez o futuro da acessibilidade passe por aqui, por tecnologia que não roube o espaço artístico, mas que o amplie.

Literatura

 

E, claro, da minha parte, não podia faltar um livro. Desta vez, trago um livro infantil pelo qual nutro muito carinho. O novo “Cuquedo – A Origem do Medo”, de Clara Cunha e Paulo Galindro, foi lançado recentemente e adaptado por mim em Língua Gestual Portuguesa, através da Associação Portuguesa de Surdos. A adaptação pode ser encontrada através do QR code dentro do livro.

Foi um desafio que abracei com carinho e também com responsabilidade, porque acredito que as crianças surdas merecem ver histórias contadas por pessoas que as representam, com o mesmo brilho, humor e expressividade que o livro carrega no papel.

 

Espero que novembro de 2026 traga mudanças reais, novos rostos na esfera política e mais oportunidades para todos. Para já, vamos conquistando e construindo o espaço que nos pertence. Um dia de cada vez, uma luta de cada vez.

Sozinhos não estamos.

Um abraço,
Mariana Bártolo

 

Sobre a autora:
Nascida em Setúbal e criada em Lisboa, no seio de uma família de músicos e médicos, Mariana Couto Bártolo é Surda profunda e orgulhosamente nativa em Língua Gestual Portuguesa. Médica inscrita na Ordem dos Médicos desde 2021, tem vindo a desenvolver várias formações de sensibilização para profissionais de saúde e capacitação de intérpretes de Língua Gestual Portuguesa para o atendimento e comunicação com as Pessoas Surdas no contexto de saúde. Recentemente, criou a página de instagram @uma.medica.surda onde partilha o seu dia a dia, naquilo que considera ser uma vida perfeitamente normal e feliz, como forma subtil de eliminar o capacitismo e o preconceito em relação às Pessoas Surdas e não só.

 

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