Olá!
Regresso com a 14ª edição da newsletter Ensaio, neste mês do orgulho LGBTI+. Trago uma reflexão sobre a importância de celebrar a diversidade e continuar a luta — antiga, mas ainda necessária — pelos direitos LGBTI+: o direito a amar e a viver com liberdade numa sociedade que ainda exclui formas diversas de ser e sentir.
E pergunto: será que pessoas com deficiência, como eu, podem verdadeiramente celebrar o seu orgulho dentro desta comunidade? Ou continuam excluídas também aqui? Fica o convite à reflexão.
Termino com três sugestões culturais: um filme sobre uma mulher que me inspira profundamente, um livro infantil escrito por uma mãe com deficiência — que em junho será também a minha realidade — e uma peça de teatro no Porto, com diversidade em palco e recursos de acessibilidade.
Espero que gostem.
Catarina Oliveira
Sociedade & Política
O mês de junho assinala o orgulho LGBTI+, com origem na Revolta de Stonewall (Nova Iorque, 1969), momento decisivo para os direitos da comunidade. Desde então, este mês é celebrado com marchas e eventos por todo o mundo — e Portugal não é exceção.
As marchas ocorrem por todo o país, estendendo-se até setembro.
Destaco:
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Lisboa: Marcha do Orgulho LGBTI+ a 7 de junho; e de 14 a 23 de junho, o EuroPride, organizado pela ILGA Portugal e a Variações.
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Porto: 20ª Marcha do Orgulho a 28 de junho, onde se marchará com “Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera na memória e no coração”
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Aveiro: 7ª Marcha a 14 de junho, concentra-se a partir das 15h.
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Caldas da Rainha: 4ª Marcha a 14 de junho, arranca às 16h.
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Braga: XIII Marcha a 5 de julho, com eventos ao longo do mês.
Muitos outros eventos, marchas e manifestações irão ocorrer por todo o país, em celebração a este mês do orgulho LGBTI+.
É essencial lembrar que a comunidade LGBTI+ é diversa. Muitas vezes, pessoas com deficiência veem-se excluídas destes eventos por falta de acessibilidade.
Como afirma o filósofo e ativista Marcelo Zig, “onde cabe um corpo com deficiência, cabe qualquer corpo”. Pensar o orgulho de forma interseccional e acessível é urgente.
Para aprofundar esta reflexão, partilho duas sugestões:
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Uma lista de 12 ativistas com deficiência da comunidade LGBTI+.
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Uma seleção de livros escritos por pessoas com deficiência, neurodivergência ou surdas dentro da comunidade.
Cultura
O destaque de Cultura deste mês tem 3 sugestões: um filme, um livro e uma peça de teatro.
Filme | Being Heumann
A Apple Original Films está a produzir um filme biográfico sobre Judy Heumann, referência mundial na luta pelos direitos das pessoas com deficiência.
A atriz Ruth Madeley (que tem espinha bífida) dará vida à ativista. A realização está a cargo de Siân Heder, vencedora de um Óscar pelo filme CODA. O filme baseia-se na autobiografia Being Heumann e centra-se na histórica ocupação de 28 dias do Edifício Federal de São Francisco, em 1977 — um marco na exigência da aplicação da Secção 504 do Acto de Reabilitação nos EUA. A data de estreia ainda não foi revelada.
A própria Ruth Madeley descreveu este papel como “o papel de uma vida”, expressando a enorme honra que sente por interpretar uma figura tão icónica e inspiradora como Judy Heumann.
Livro Infantil | Mama Car por Lucy Catchpole
Escrito por Lucy Catchpole e ilustrado por Karen George, Mama Car é um livro infantil que apresenta a cadeira de rodas de uma mãe como parte natural da vida familiar.
Narrado pela filha, mostra como tarefas simples se tornam aventuras e como a cadeira de rodas representa conforto, mobilidade e segurança.
É uma obra inclusiva e acessível, ideal para leitura em casa e em contexto escolar, com recursos educativos disponíveis.
Teatro | Babel, Teatro Carlos Alberto (Porto)
Em cena de 10 a 14 de junho, Babel é uma criação de Nuno Cardoso que reinventa Os Lusíadas num cenário contemporâneo.
O espetáculo destaca-se por integrar um elenco diversificado — com atores com deficiência, músicos e membros da comunidade — e por oferecer recursos como interpretação em Língua Gestual Portuguesa e audiodescrição, na sessão de 14 de junho.
Sobre a autora: Nasceu no Porto, cidade onde vive até hoje, é Nutricionista, Consultora e Formadora para a Diversidade, Equidade e Inclusão e responsável pela Academia Access Lab. Pós Graduada em Estudos da Deficiência e Direitos Humanos pelo ISCTE. Criou o projeto @especierarasobrerodas, uma comunidade no Instagram que conta com mais de 52.000 pessoas, onde pretende quebrar preconceitos e tabus relacionados com as pessoas com deficiência e criar espaços de diálogo e educação sobre a temática. Trabalha também como palestrante em escolas, universidades, empresas e colabora com marcas nacionais e internacionais, com o objetivo de esclarecer conceitos como o capacitismo e apresentar soluções e boas práticas de acessibilidade, interação e promoção da representatividade da pessoa com deficiência nas diferentes esferas da nossa sociedade. |
![]() Esta newsletter foi escrita ao som de FUNNY little FEARS, novo álbum do Damiano David. The Marvellous Mrs. Maisel.
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