Aliu Baio: a batida da música, o clique da fotografia – A história de um músico cego

Olá, sou o Aliu Sane Baio, nome artístico Nick Aliu Sane Baio, tenho trinta anos. Sou um homem alto, com 1,84 de altura, pele negra, cabelo afro, uso óculos, tenho um nariz arredondado, lábios grossos, ombros largos e uma estrutura forte. Vou falar um pouco sobre mim.

Nasci em Bissau e saí de lá aos 9 anos de idade. Vim para Portugal devido à minha deficiência visual; nasci com pouca visão no olho esquerdo. Devido a um acidente em tempos de guerra, ninguém percebeu que o pequeno Aliu, também conhecido por “Francês”; pela minha família, tinha problemas de visão no olho esquerdo. Em 2005, aterrei em Portugal.

Era uma criança que corria muito, adorava subir às árvores e chatear o meu irmão mais velho para que me trouxesse caranguejos quando fosse pescar! Adorava andar de bicicleta, mesmo com a visão comprometida.

Na aldeia onde vivi na infância, havia muito campo verde, terra vermelha e muita fruta boa! Havia também o mar, um dos lugares onde me sinto em casa. Amo a natureza e as suas belezas infinitas.

O meu percurso de vida, depois de me adaptar ao frio, comida e cultura, passou por estudar numa escola que viria a mudar muito a minha vida. Quando cheguei ao Centro Helen Keller (CHK), já falava português muito bem. Lembro-me de ficar muito feliz com o novo lugar, novas pessoas e amigos. Uma das minhas primeiras amizades foi com o Simão Barreto, que me mostrou a escola toda no primeiro dia.

Foi lá que desenvolvi a minha paixão pela música; eu e a bateria foi amor à primeira vista! Durante os anos que frequentei a escola, tive aulas com o professor Jorge Nogueira, com quem aprendi muito. Mais tarde, fui para a escola de jazz Luís Villas-Boas, onde estudei durante seis anos, enquanto ainda estava na escola secundária.

Após terminar a escola de jazz e a secundária, ingressei na faculdade. A minha primeira experiência não correu bem por diversos fatores, incluindo a pandemia que nos assolou. Hoje, estou a dar outra oportunidade à faculdade e estudo Ciências da Comunicação na UAL.

O teatro é algo que sempre gostei muito. Lembro-me das visitas de estudo no CHK, onde víamos peças de teatro e muitas vezes participávamos nelas.

Também recordo-me das peças que ensaiávamos nos recreios com a turma da professora Susana Palma.

Com o passar do tempo, comecei a nutrir o sonho de ser artista e trabalhar com teatro. Hoje, estou a realizar esse sonho, trabalhando com a Raquel André no espetáculo “Belonging” e no “Atempo”, onde eu e a Raquel somos uma das três duplas formadas pelo Marco Paiva e a Terra Amarela.


Aliu Baio

Aliu Sane Baio, nasceu na Guiné-Bissau e mudou-se para Portugal para tratamento devido à sua deficiência visual. Descobriu a sua paixão pela bateria aos 14 anos enquanto estudava no Colégio Helen Keller. Formou-se na Escola de Jazz Luís Villas-Boas – Hot Club de Portugal, onde aprendeu com professores renomados como Bruno Pedroso e Joel Silva. Atualmente, é professor na [Academia de Guitarra, Música e Tecnologia, estuda Ciências da Comunicação na Universidade Autónoma de Lisboa e toca em vários projetos musicais, incluindo os Vertigem e Samambaia. Também é conhecido por suas performances no espetáculo Belonging de Raquel André, no projeto Ensemble Sentido de Sebastião Antunes e, como ator, no espetáculo Atempo/Memória da Terra Amarela.


 

Megafone

Anne reescreveu o caminho que a sua vida iria seguir para construir e inspirar a comunidade de pessoas com perda de visão e doença crónica a quebrar barreiras e a ver a beleza, tornando a visão acessível nas redes sociais. Através da visão e da narração de histórias, Anne atrai o seu público emocionalmente para construir uma comunidade conectada e inclusiva com a comunidade com visão e com deficiência visual.  


Clipping


Vocabulário da deficiência: o conflito entre a assimilação e emancipação

Artigo – Shifter

“Urge repensar o léxico sobre pessoas com diversidade funcional, nos universos da deficiência física, visual, intelectual e auditiva, a par das comunidades Surda e neurodivergente. (…) A emancipação de pessoas com deficiência é um estágio tão pueril quanto urgente, porque a assimilação continua a ser a força dominante. Cria a ilusão de pertença, quando, na verdade, somos órfãos dela.” Artigo de Tiago Fortuna.

 

‘The basis of eugenics’: Elon Musk and the menacing return of the R-Word

Artigo – The Guardian

O insulto tem as suas raízes na desumanização das pessoas com deficiência intelectual. O seu ressurgimento ameaça os frágeis progressos que alcançados. Artigo em inglês do The Guardian.


 

Agenda

Eventos com acessibilidade física, legendagem, Língua Gestual Portuguesa e Audiodescrição. 

Exposição “Resistência e Liberdade | Museu do Aljube
29 de março a 29 de novembro, Museu do Aljube, Lisboa 

Destaque: Visita à exposição de longa duração do Museu do Aljube Resistência e Liberdade e às memórias da resistência à ditadura em Portugal, até ao 25 de Abril de 1974 e a conquista da liberdade.


+ informação: Museu do Aljube

Acessibilidade: Visitas guiadas em Língua Gestual Portuguesa.


Mais sugestões em www.cultura-acessivel.pt

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