Em 2016, com 21 anos, um acidente de trabalho deixou-me tetraplégico e a minha vida mudou completamente. Passei a viver uma nova realidade, dependente de terceiros praticamente para todas as atividades diárias. Mesmo as mais básicas. Passei a deslocar-me numa cadeira de rodas elétrica, o que me dá alguma autonomia.
Após passar por dois hospitais e começar a minha reabilitação no Centro de Medicina de Reabilitação – Rovisco Pais, o meu foco sempre foi recuperar o máximo possível e voltar a casa. Estava longe de imaginar que este voltar a casa ia demorar quase 8 anos. Entre processos em tribunal e conversações com a seguradora, o tempo foi passando. Como a casa dos meus pais não estava preparada para receber uma pessoa em cadeira de rodas, depois do meu internamento, fui encaminhado pelo seguro para uma unidade de saúde privada, também chamada de centro residencial, onde fiquei institucionalizado quase 7 anos, indo apenas ao fim de semana a casa, quase como uma saída precária. Rodeado de pessoas com o triplo da minha idade, com horários, rotinas, ementas impostas – normal num sítio destes – tinha muito pouca flexibilidade de escolha. Acabei por experienciar uma realidade que poucos conhecem, estar institucionalizado num sítio onde te sentes deslocado e que não pertence ali, muito menos tão jovem. Vivi coisas boas e más, mas este tempo ajudou-me a crescer e a refletir, fazendo com que o meu foco deixasse de ser voltar para casa dos meus pais, e passasse a ser o ter o meu espaço e as minhas coisas, recuperar a minha privacidade e o meu direito/poder de escolha. No fundo, apenas queria ter uma vida independente e lutei para que isso acontecesse.
Em dezembro de 2023, depois de atravessar a dificuldade em arranjar uma habitação adaptada, já com o desfecho dos processos em tribunal e chegado a um acordo com a seguradora, fiz a transição do centro de residencial para um apartamento.
Cheio de incertezas e com alguma insegurança, por um lado, com uma nova realidade em ter um apartamento para gerir, com renda e restantes despesas para pagar, por outro, o de estar a viver “sozinho”.
No início foi estranho, mas rapidamente me habituei ao ambiente calmo, ao silêncio, ao meu ritmo e ao poder fazer as minhas escolhas. Com o apoio de uma pessoa 24 horas por dia, tenho uma vida normal, uma verdadeira vida independente apesar das minhas limitações.
Infelizmente, esta realidade ainda não é possível para todas as pessoas pessoas com deficiência (PCD). Muitas delas estão em situações similares àquela em que eu estava: internadas em unidades de cuidados continuados ou em lares na terceira idade, sem possibilidade de sair devido a vários fatores, desde financeiros, falta de adaptação da habitação ou impossibilidade em ter um cuidador. A lentidão da justiça, a resistência que os seguros oferecem e a falta da resposta do governo levam a que muitas PCD tenham a sua vida em suspenso. A ajuda que o governo dá através dos centros de apoio à vida independente é precária e não consegue dar uma resposta adequada a todos aqueles que sonham com uma vida independente. Ninguém merece estar institucionalizado, privado das suas escolhas num sítio ao qual não pode chamar de casa.
João Sousa
João Sousa, residente na Figueira da Foz, frequenta alicenciatura de Ciências Sociais da Universidade Aberta. Tetraplégico desde 2016 tem dado palestras sobre o tema da deficiência, acessibilidade e vida independente. Amante de música, concertos, festivais e de arte no geral. Gosta de desporto, principalmente escalada, modalidade que praticava, e entre as montanhas é onde se sente bem.
Megafone
Clipping
Cyntia investigou a experiência das pessoas cegas no teatro, que agora pôs em livro
Durante pesquisa para tese de doutoramento, Cintya Floriani mergulhou no mundo dos cegos e trouxa à tona percepções e sensibilidades únicas, que muito podem contribuir para todos.
Agenda
Eventos com acessibilidade física, legendagem, Língua Gestual Portuguesa e Audiodescrição.
Pedro Abrunhosa – Viagens 3.0 | MEO Arena
23 de novembro | Lisboa
Destaque: Do rock ao jazz, Viagens mudou a história e o paradigma da música portuguesa. Multidões e novas gerações ainda hoje entoam de uma ponta à outra sucessos ímpares do cancioneiro nacional de que são exemplos Não Posso +, Socorro, É Preciso Ter Calma, Lua ou Tudo o Que Eu Te Dou.
Considerado o melhor álbum da década de 1990 pela revista Blitz, “Viagens” é ainda hoje um dos discos mais vendidos de sempre em Portugal.
+ info: Site oficial
Acessibilidade:
concerto com recursos de audiodescrição, língua gestual portuguesa e coletes sensoriais. Para ter este recurso, basta adquirir bilhete válido para o evento e enviar um email para acessibilidade@aarena.pt indicando o serviço que pretende.