Tenho cinco filhos – maravilhosos – entre os 14 e os 21 anos e estou a chegar aos 49 anos.Já passei, portanto, a meia-idade. O mundo está diferente e a sociedade completamente diferente.
É no mundo de hoje que os meus filhos crescem, com a perceção de que a natureza é a extensão da sua casa e de que o desconhecido está fora do nosso planeta. No entanto, dentro de nossa família vivemos uma situação menos comum: o nosso filho mais novo tem deficiência profunda, é cego, não fala, não anda sem ajuda. É totalmente dependente para qualquer tarefa ainda que mais básica ou mesmo de subsistência. É a família que providencia as suas necessidades, é a família que o protege, por vezes, até de si mesmo e é a família que o acompanha em todos os momentos, como é próprio para um jovem de 14 anos. Somos muito felizes e agradecidos pela oportunidade de cuidarmos uns dos outros e, em especial, deste membro da nossa família.
Fora do núcleo familiar torna-se mais difícil ir construindo um futuro para este nosso filho: onde é que vai viver? Quem é que vai cuidar dele? Quem é que o vai proteger? E mais ainda, como é que vai viver o seu dia a dia? O que é que pode acontecer se algum dia lhe faltarmos? Quem é que nos substitui? Mesmo estando presentes, como é que o nosso filho pode ter uma vida social?
E por vezes pergunto-me também: de quem é a responsabilidade pela qualidade de vida deste jovem? Será da família exclusivamente? E se a família não tiver possibilidade? Ou mesmo que a família possa providenciar o bem-estar de uma pessoa com deficiência, será que deve ser a família a sociedade em que este jovem vive? Qual é o papel da sociedade na vida desta pessoa que é um cidadão de pleno direito?
Enquanto pensamos em que sociedade temos hoje para os nossos jovens com deficiência podemos também pensar em que sociedade gostaríamos de deixar para os nossos jovens com deficiência. Enquanto tomamos conta da nossa casa comum devemos também cuidar dos seus habitantes. Todos, todos, todos. Acredito que esta é a nossa verdadeira natureza – cuidarmos uns dos outros e da nossa casa comum.
Enquanto cuidamos da sociedade de hoje e da forma como lidamos com a deficiência o que é que podemos fazer para a sociedade em que os nossos filhos vão viver no futuro? Como fazer para que o seu valor seja apreciado pela sociedade e para que estenosso filho possa contribuir com o que melhor sabe fazer?
Acredito que seja através do olhar, da escuta ativa e da atenção que decidimos dedicar a cada pessoa com quem nos cruzamos que conseguimos reconhecer o seu valor individual. E que grande sorte será se esta pessoa for mesmo diferente de nós, neste caso o que tem para me ensinar será tanto maior quanto for a diferença entre nós.
Carmo Diniz
Carmo Diniz, casada, com 5 filhos, é licenciada em Biologia. Atual coordenadora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência do Patriarcado de Lisboa e diretora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência da Conferência Episcopal Portuguesa. Tem desenvolvido atividades no contexto da Igreja portuguesa, entre elas, no Comité de Organização Local da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, na Fundação Fé e Cooperação (FEC) e na Fundação Scholas Occurrentes em Portugal.
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O poder do 5G: João Sousa revive a paixão da escalada
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João Sousa, um apaixonado por escalada e tetraplégico há 7 anos, teve a oportunidade de reviver as emoções da escalada graças à tecnologia 5G.
Agenda
Eventos com acessibilidade física, legendagem, Língua Gestual Portuguesa e Audiodescrição.
Teatro Luís de Camões | O Anel do Unicórnio – uma ópera em miniatura
7 de outubro, Lisboa
Destaque: Pedro Patê é um rapaz enfadado pela sua invulgar sorte: filho de dois cantores de Ópera vive ele próprio dentro de uma Ópera que nunca acaba, com a música de fundo de uma Orquestra que pauteia cada gesto que faz. Até que um dia, o gato de estimação de Faustina Balão: Don Giovanni al Latte, desaparece misteriosamente. Precisamente no dia em que Bellini Bel Canto e Faustina Balão celebram as Bodas de Prata. Afinal, na Ópera não há limites para o imprevisto!
+ info: Teatro Lu.Ca
Acessibilidade: Sessão descontraída e com Língua Gestual Portuguesa dia 7 de outubro, 11h30.
Teatro Nacional São Carlos | A História do Príncipe H
11 de outubro, Porto
Destaque: Há um ator que ensaia o papel de Horácio em História do Príncipe H. O H que mora no título remete-nos para Hamlet, príncipe da Dinamarca, mas também, e sobretudo, para Horácio, o seu fiel amigo, aquele que fica para “contar ao mundo como tais coisas se passaram”. Shakespeare fez de Hamlet, a peça, o emblema do nosso eterno desconcerto perante o grande teatro do mundo. O encenador polaco Jacek Malinowski, diretor artístico do Teatro de Marionetas de Białystok, apropria-se dela para refletir sobre o conceito de manipulação, essa forma cínica de atingir objetivos, exercer influência, ganhar poder. Solo premiado em 2019 no festival internacional Baltic Puppetwhirl, História do Príncipe H testemunha a luta entre uma moral degenerada e uma justiça perversa, turbinada pelo sentimento de vingança.
+ info: Teatro Nacional São Carlos
Acessibilidade: espetáculo legendado em português.
Mais sugestões em www.cultura-acessivel.pt